A mentira

Nos meus vintages, fazia parte do meu grupo de amigos um determinado rapaz, a quem aqui vou chamar, deixa ver... Horácio! Gosto deste nome. Por acaso, tive mesmo um amigo chamado Horácio, mas isso foi quando tinha para aí 15 anos... (Horácio, se me estás a ler, manda um e-mail, que até era giro voltar a ver-te antes de fazer 50 anos!...)

Bem, mas então, o Horácio (o do nome fictício), frequentava, como eu, o curso de Direito, mas numa universidade privada. Já não me lembro qual, mas isso também não interessa para esta história. E, apesar de ter umas cadeiras em atraso (lembro-me de no 5° ano ele pedir emprestados livros de Direito Administrativo, que era uma cadeira aí do 2° ou do 3° ano, dependendo das universidades), o Horácio conseguiu acabar o curso antes de um dos seus melhores amigos (e melhor aluno!), tendo por isso gozado com ele à fartazana e obrigado esse seu amigo a tratá-lo por "doutor".

A licenciatura do Horácio foi devidamente festejada e, sobretudo, bebida, no velho Xafarix e a vida lá continuou, mais ressaca, menos ressaca, tendo o Horácio começado a fazer o estágio de advocacia num escritório arranjado através do pai da sua namorada.

Assim, todos os dias, o Horácio dormia até tarde, levantava-se, tomava banho e saía de casa dos tios (com quem vivia) por volta da hora do almoço, para ir fazer a tarde no escritório. E isto sabiam os tios.

A namorada, contudo, sabia outra coisa. Sabia que o Horácio lhe aparecia todos os dias em casa por volta da hora do almoço, dizendo que vinha do escritório.

Quanto à noite, não havia dúvidas. Tanto os tios como a namorada do Horácio sabiam que ela era passada em sucessivas e regadas saídas a bares e discotecas.

E a vida foi bela até ao dia em que o advogado dono do escritório onde o Horácio era suposto estagiar telefonou ao pai da namorada a perguntar quando é que, afinal, o rapaz começava a fazer o estágio... Pois foi neste dia que a namorada do Horácio e o melhor amigo dele foram à universidade procurar o certificado de habilitações do rapaz. Uma vez que, por acaso, nesta universidade não se mandavam documentos para o maneta, foi nesse dia, também, que se descobriu que o Horácio não tinha acabado o curso.

Descoberta a verdade, o tio do Horácio convidou todos os amigos do sobrinho para jantar lá em casa, dois a dois ou quatro a quatro, com o objectivo de lhes pedir desculpa pela enormidade. Nós éramos um grupo grande, por isso posso afirmar que terão sido aí umas vinte vezes que o Horácio teve de pedir desculpa pela mentira.

Esta história faz-me lembrar uma outra... mas essa já todos os portugueses conhecem e estão atentos, espero eu, ao seu desfecho.

Eu, por acaso, sempre achei que o primeiro-ministro tinha um nariz enorme. E depois, o facto de ter optado por ser chamado de Sócrates também me deixou com desconfianças. Não sei se sabem que há quem legitimamente duvide da existência real de Sócrates, pois dele apenas se sabe através da obra de Platão...