quinta-feira, março 08, 2007

Os cinquenta anos da televisão


Ontem concluí que devo ter passado dois terços da minha vida em frente à televisão, a maior parte do tempo a ver a RTP.

Como alguns de vós poderão ter constatado, a RTP1 transmitiu ontem em directo um espectáculo comemorativo dos seus 50 anos. E foram precisos 50 anos para que se fizesse um respeitável espectáculo, todo organizadinho, em que tudo correu bem e a seu tempo, salva a excepção da entrada de Rui Reininho para cantar com Tony de Matos. Não devem ter ensaiado...

O espectáculo estava bem pensado e teve alguns momentos bastante bem conseguidos, como aqueles em que os cantores de hoje em dia cantavam com cantores dos idos tempos (Amália, Hermínia Silva, Tony de Matos) ou como aqueles em que chamaram ao palco as estrelas da TV dos últimos cinquenta anos, fossem eles profissionais da televisão, atletas, actores, vencedores do Festival da Canção ou misses Portugal.

Aliás, é de sublinhar a emoção destes momentos e o prazer que sempre temos em rever caras que nos acompanharam durante anos a fio, mesmo que tenhamos de as descortinar atrás de muitas rugas, de um olhar cansado ou de uns valentes quilos a mais. Adorei rever, por exemplo, a Fernanda Borsatti e a Margarida Maria.

Interessantes, também, foram os momentos televisivos em que através de imagens pré-gravadas, várias pessoas que fazem parte da história da televisão deram os seus testemunhos e os parabéns à aniversariante: José Eduardo Moniz, Teresa Guilherme, Maria de Lurdes Modesto, Manuela Moura Guedes (mesmo num discurso de apenas duas palavras!), Nicolau Breyner, Carlos Pinto Coelho, entre outros. No que a estes momentos respeita, contudo, estranhei a sequência de testemunhos de três pessoas. Não pode ter sido coincidência; alguém quererá ter dito algo quando alinhou numa só peça os testemunhos de Carlos Cruz, Victor de Sousa e Herman José...

Outro bom momento da noite foi o visionamento das gravações feitas com Artur Agostinho e José Carlos Malato nos arquivos da RTP. Um texto bem escrito, um cenário conseguido e dois grandes personagens da TV: um dos mais antigos e um dos mais recentes. Tudo esteve perfeito, desde os diálogos a propósito dos vários objectos do arquivo até ao encontro acidental da Adelaide João ou do Artur Albarran. Excelente!

Os cantores de serviço também estiveram bem. Foram jovens vozes afinadas a cantar sequências interessantes, das quais são de destacar a dos spots publicitários (Laranjina C, Bic, Mokambo, Mehari Citroën), a dos temas das séries para crianças (Heidi, Vickie, Pipi das Meias Altas, Avô Cantigas, Fungagá da Bicharada) e a das canções que ao longo dos anos mandaram os mais pequenos para a cama. No que a este tema respeita, aliás, tenho de dizer que foi uma emoção rever o desenho animado da primeira música que me lembro: Meninos rabinos, mas muito asseados, a cara e os dentes lavados...

Momentos maus, só mesmo aquela fingida ligação à Gronelândia para falar com a Margarida Mercês de Melo, sem nenhuma razão de ser, e ainda, a meu ver, a inexplicável tentativa de contacto com Paris seguida da entrada das bailarinas do Moulin Rouge. Para mim, pelo menos, não fez sentido.

Ficaram, ainda assim, muita gente e muitas alusões de fora, pois era impossível fazer referência a tudo e todos. No entanto, a ausência de qualquer referência a Fernando Pessa, uma das incontornáveis personagens da televisão em Portugal, foi uma falha indesculpável.

Resumindo, e como é perceptível, gostei bastante do espectáculo que ainda por cima começou e terminou a horas decentes, que é como se faz nos países civilizados. A RTP parece estar num bom caminho. Será que poderei confirmar isto daqui a 50 anos?...

(Este post foi ligeiramente editado às 14h00.)

22 Comments:

Blogger Bluejustin said...

Tive pena de não ter visto (estive a tratar dos meus filhotes), mas pode ser que repitam e eu consiga pelo menos gravar para ir vendo.

A RTP também fez parte de muitos anos da minha vida e tal como escreveste é bom recordar.Também acho que está no bom caminho, pelo menos tem programas que gosto de ver apesar do pouco tempo que dedico à TV.

Adorei o post.

:D

março 08, 2007 11:13 da manhã  
Blogger Carlota said...

Bem vinda ao Lote 5, Blue Justin!
Repetem com toda a certeza. Hás-de ter a tua segunda oportunidade! :)
Beijola.

março 08, 2007 11:20 da manhã  
Blogger jg said...

Carlota,
A menina está em Bruxelas. Todos nós ficamos mais tolerantes quando estamos ausentes.
Diga-me que teve alguma graça o Malato, com as ex-misses em palco. Insinuar, por falta de jeito, que elas estavam velhotas gordas e acabadas foi um mimo despropositado. Que coisa mais deselegante para com as senhoras...
Evidentemente que todos guardamos boas recordações da TV do nosso tempo. Aliás, nem havia outra.
O que não tem graça, no meu ponto de vista, e trazer a palco as figuras que todos conhecemos com mais de 70 anos e na sua maioria com ar acabado, quando a recordação que delas tinhamos era dos seus tempos de glória.
Acho ser devido o reconhecimento mas o recato da ausência em palco seria particularmente cómodo e grato para ambos.

março 08, 2007 12:15 da tarde  
Blogger Carlota said...

JG, asseguro-lhe que a distância não me torna mais tolerante. Só a idade. :)
Tenho uma vaga memória dessa insinuação do Malato. Falta de jeito, é verdade. Mas é o que dá estar obrigado a falar. Dizem-se sempre disparates quando temos de encher chouriços. Para evitar estas argoladas, há quem fale do tempo...
Quanto ao resto, não estou de acordo. Não creio que devamos esconder os idosos porque estão velhos e acabados. Acho que eles também não o querem ou não teriam aceitado o convite. Tenho para mim que foi uma emotiva e bonita homenagem.
Beijola.

março 08, 2007 12:34 da tarde  
Blogger t-shelf said...

oh carlota obrigada pela reportagem tão completa... Para quem não viu (como eu)é um execelente aperitivo ;)Também vou ficar à espera da repetição.
bjs

março 08, 2007 12:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

concordo em tudo contigo! ate na parte do Rui Reininho. Eu que nao sou dada muito a estes programas, vi-o todo. ja nem preciso fazer um post!

março 08, 2007 1:40 da tarde  
Blogger Marreco said...

Carlota,
Feliz dia da mulher!
Ontem não vi a gala dos 50 anos, porque passou no horário das telenovelas!
Ora, nesse horário, só abro excepção para um jogo de futebol, fora isso, recuso-me a ver TV.
Bjs

março 08, 2007 3:43 da tarde  
Blogger Carlota said...

De nada, T. Ainda bem que gostaste de a ler!

Quer dizer, portanto, que hoje já fiz um post por duas, Claudette! ;)

Que pena, Marreco, teres estado a ver as novelas. Que ainda por cima dão todos os dias...

Beijolas aos três.

março 08, 2007 4:12 da tarde  
Blogger Sinapse said...

Reconciliada com a RTP, hein?! ... por fugazes instantes, ainda pensei que nos ias contar que te escreveram em resposta ao teu post sobre a Senhora Dona Maria Emília!

Fiquei com vontade de ver esse programa dos 50 anos da RTP ... eu sou uma saudosista, uma nostálgica, ... (suspiro) ...

Alguém sabe se o programa está disponível? (sei lá aquelas coisas de podcasts, e RSS feeds e sei lá que mais magiquices ...) ... o que eu não dava para ouvir o Fungagá da Bicharada!!! ... e ver/ouvir o Chico Escuro ... aperta-se-me o coraçãozinho de emoção, só de me lembrar (vagamente) do Chico Escuro e do Carrossel Mágico!

... a Carlota por acaso não gravou o programazinho, não? ...

...

Beijinhos,
Sinapse

março 08, 2007 4:43 da tarde  
Blogger Periférico said...

O espectáculo deve ter-te mesmo emocionado, nunca te vi tão tolerante com a RTP.

A mim irritou-me o facto de quando chamavam as pessoas ao palco de uma certa área televisiva para tirar a chamada foto de família, nunca fizessem um "travelling" completo das mesmas, mostravam o público a aplaudir, quando o importante eram as pessoas que tinham contribuído com a sua cara para as mememória e glória da RTP.
Péssimo promenor de realização.

Outro promenor, este de produção, se sabiam que o Engº Sousa Veloso que gostei de rever, tinha dificuldades de locomoção, deviam ter previsto e auxiliar logo o senhor Engenheiro a ir para o Palco de uma forma menos penosa.

Os momentos musicais para mim ainda foram os mais bem conseguidos, mas o Rui Reininho ontem mais uma vez me fez pensar que tinha sniffado algo, ele não estava na Gala, estava algures... ;-)

Beijos

março 08, 2007 5:28 da tarde  
Blogger Mónica Lice said...

Também vi e gostei! Tirando um pormenor ou outro, o que inclui também o Rui Reininho, gostei do resultado final!

Beijinhos.

março 08, 2007 5:31 da tarde  
Blogger Carla Motah said...

Carlota, concordo plenamente. Aliás publiquei um post alusivo. Claro que não tão completo, mas achei piada à coincidência.
Beijinhos

março 08, 2007 6:24 da tarde  
Blogger Arcebispo de Cantuaria said...

Carlota,

Escrevi este texto para um comentário no site do Nuno Markl, mas aplica-se aqui perfeitamente. (Não vai para o meu belogue (não faz o género :)

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e ao fim de ?? anos passei uma noite inteira a ver TV porque foi relamente… chegou a por “uma lágrima no canto do olho, tem uma lágrima no canto do olho”.

A RTP fez u a GALA que nada tem que ver c’agala da TVI. Esta foi apenas estupida. a da RTP foi-nos ao coração.

Muto bem o Malato (+ uma lágrima ao canto do olho, diversas vezes), genial com Artur Agostinho a encontrarem Artur Albarran perdido no arquivo da RTP.

Muito bom o RAP com a Ana Sousa Dias.

Muito bons os momentos musicais “não-la-férianos” com as musicas dos anuncios e dos desenhos animados (não faltou a bic cristal, bic laranja, penso que em homenagem a ti, Markl, mas faltou “se fosse hoje não se queimava pois já tinha uma silampos”, o famoso anuncio do João Ratão, das panelas de pressão Silampos!)

Muito bom Iefgeny Mouravich (seja lá como é que se escreve) a aviar um copázio de vódeca em directo de moscovo.

Muito bem Nuno Santos a abrir o discurso destacando “o Senhor Televisão”, Carlos Cruz. Ali só se falava de televisão/profissionalismo. Esperava maior reacção da sala.

Quanto ao Reininho, é preciso conhecer O Rei Ninho. Para quem o ouviu, por exemplo na Prova Oral, devia saber que ele não bebe. Quem o acompanha desde os 80’s, devia saber que o Reininho nunca faz o que está combinado/previsto. É um “agent provocateur”, é um puto irreverente. O que alguns catalogam de “tesourinho deprimente” eu catalogo de “genial momento de humor”. O homem pode não bater bam da cabeça, mas AQUILO é o Reininho, sem alcóol, sem drogas (como se vê, não precisa!). (os génios serão sempre incompreendidos).

Só tive pena de ter perdido o inicio mas entre Gala RTP e “Brava Dança” na Portugália, houve que sacrificar alguma coisa.

março 08, 2007 8:03 da tarde  
Blogger Jana said...

não vejo muita televisão, nem a RTP, mas já me disseram que a gala foi bastante boa...
que mais há dizer, acho que começa o post de uma maneira excelente, hoje em dia passa-se grande parte da vida coma televisão ao lado: a babby-sitter por excelencia das crianças é a Tv...que seria do futebol sem ela...e das donas de casa sem a telenovela?
Beijinhos e bons programas de TV!!!

março 08, 2007 8:20 da tarde  
Blogger António Conceição said...

Vi trinta segundos. O Malato e a Furtado faziam de parvos de um lado; a sílvia não sei quê e um tipo de quem eu não sei o nome (que faz anúncios ao BCP) faziam de idiotas do outro.
Bastou-me.
Fui ler o "Nascido no Estado Novo" do Dacosta.

março 08, 2007 10:30 da tarde  
Blogger Carlota said...

Antes de mais, Marreco, desculpa-me. Não percebi bem o que escreveste e pensei que andavas a ver novelas... :S

Não exageremos, Sinapse. Não me reconciliei coisíssima nenhuma. E, so sorry, não gravei nada. Aliás, tivémos de nos ver livres do video, pois já não cabia ao pé da TV. E como nunca dá nada que valha a pena para gravar...

Bolas, devo estar mesmo a ficar velha! És o segundo hoje a dizer que estou demasiado tolerante, Periférico!

Parece reunido bastante consenso a propósito deste espectáculo, Lice e Carla! :)

Que grande comentário, Arcebispo de Cantuária. De facto, dava um post.
Já agora, o que foi a "Brava Dança” na Portugália?

É verdade, Jana, a televisão tornou-se numa verdadeira dama de companhia para muitas, muitas pessoas!

Funes, quem não sabe como se chama aquele homem que faz anúncios ao BCP não está, de facto, habilitado para ver este tipo de programas. :) A leitura foi, portanto, a escolha acertada!

Beijolas a todos.

março 08, 2007 10:57 da tarde  
Blogger patchouly said...

Faltou a referência à RTP Porto, à RTP N (Falou-se da RTP Madeira, Açores, Africa e Internacional) e uma referência aos tecnicos, desde os realizadores, cenografistas, até aos carpiteiros, electricistas, etc (não fosse o depoimento do realizador de Xailes Negros e seria 0 a presença de gente "de traz das câmaras")
Mas foi jeitosinha a gala, sim. Será porque foi produzida pela Endemol?

Beijinhos

março 09, 2007 4:33 da manhã  
Blogger Carlota said...

Tens razão, Patch. E duplamente, porque referes a Endemol!
Beijola.

março 09, 2007 8:51 da manhã  
Blogger Arcebispo de Cantuaria said...

Car Lota (já tens nome para quando abrires aí um stand de "beículos uzadus"),

Brava Dança é isto: http://bravadanca.blogspot.com/
Um documentário sobre os Heróis do Mar (e o Portugal - musical e social - dos 80's). A Antena3 passou das 21 às 22 no programa Portugália do Henrique Amaro a versão áudio do documentário.

Eu não sabia que tinha sido a Endemol que produziu mas uma das coisas que comentei no "durante" foi, curiosamente, "isto está estranhamente bem produzido". Já percebi porquê.

PS (salvo seja!): obrigado pelas visitas que tens "enviado" ao meu caderninho (naturalmente extensivel sobretudo a quem tem pachorra para me ir lá ler. Imagina que até há quem volte! :)

março 09, 2007 10:19 da manhã  
Blogger Carlota said...

Por acaso, Arcebispo, ontem deu no Telejornal uma pequena reportagem sobre a Brava Dança, pelo que já estava mais ou menos a par. Só não tinha ainda percebido a ligação do documentário à cervejaria! :)

Quanto às visitas enviadas, é com muito gosto. Já há algum tempo que pensava fazê-lo, para falar verdade. E claro que há quem volte! Olha eu, perizemples.
Beijola.

março 09, 2007 11:57 da manhã  
Blogger 'Tá Difícil said...

E eu que gostava tanto do engº Souza Veloso que se despedia sempre com "abizade" até ao próximo programa e do Vasco Granja com aquelas animações ucranianas e moldavas que eu não percebia mas que me prendiam pela diferença do que estava habituado a ver...

Não vejo muita televisão agora, mas também me apercebi à conta deste post, que já passei muito tempo da minha vida à frente do Canal 1 e da Dois.

Um beijinho

março 09, 2007 7:03 da tarde  
Blogger Wakewinha said...

Concordo contigo no facto de ter sido de muito mau gosto não dedicarem um ou dois minutos de especial carinho ao grande senhor da televisão, o Fernando Pessa. Porém gostei de ouvir lembrarem o Carlos Cruz como o Sr. Televisão (eu ainda acredito na inocência do senhor)!!!

Também adorei perceber o respeito que a estação pública tem pelos seus espectadores transmitindo o espectáculo a horas decentes.

Foram 50 anos bem recordados. E bem saudosos...

março 11, 2007 11:43 da tarde  

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