quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Amor, a quanto obrigas




A vida humana está em constante evolução. Inúmeras tradições adaptaram-se às novas mentalidades, outras desvaneceram-se, os custos dos casamentos e dos divórcios inflacionaram, os hábitos quotidianos desfiguraram-se, foi descoberto um buraco na camada do ozono, as alterações climáticas passaram a ser um tema corriqueiro e os tempos que correm não se compadecem com desperdícios. Vistas bem as coisas, isto só pode querer dizer que é também preciso alterar os critérios da escolha da nossa cara-metade e ter uma apertada malha na rede que lançamos para a apanhar. Para que a não se extinga a vida no planeta e, no fundo, para um futuro melhor.

O slogan a aplicar a esta nova forma de descobrir o objecto do nosso afecto poderia ser: Querido coração, espera aí que vou ali ter uma conversinha com a razão. Como tudo funcionaria, é o que vou tentar explicar.

Pensamos que encontramos a pessoa certa, não é? É isso, pelo menos, que o coração nos diz. Muito bem. Mas mandemos o dito numa excursão às grutas de Mira de Aire e convoquemos uma reunião com o cérebro.

O(a) mais-que-tudo recila? Apaga as luzes quando já não precisa delas? Pressiona o botão pequeno do autoclismo com regularidade? É a favor do uso das lâmpadas económicas? Não tem qualquer tipo de apego aos sacos de plástico do super-mercado? Está disposto(a) a deslocar-se numa viatura com baixas emissões de dióxido de carbono? Ainda assim, recusaria utilizar os transportes públicos diariamente? Não tem nada contra a compra de mobílias feitas com madeira cujo corte foi certificado como ambientalmente apropriado, socialmente benéfico e economicamente viável? Não se importa de apenas comer o peixinho de cultura sustentável? Pode mesmo passar sem o jaquinzinho? É contra a caça da baleia? Prescinde de todos os produtos com clorofluorcarbonetos? Aprovaria a compra, pelo condomínio, de um painel solar a instalar no telhado do prédio? Está disposto a substituir o ar condicionado pela ventoínha e o aquecimento pelo saquinho de água quente? Alguma vez se atreveria a deitar o óleo alimentar usado pelo cano abaixo?

Ainda que se torne tudo mais complicado do que responder à questão 'É com esta pessoa que quero juntar os trapinhos?', a resposta a muitas destas perguntas poderia ser a chave para celebrarmos, por muitos São Valentins, a escolha do objecto da nossa afeição. Porque o amor, apesar de intenso, é uma coisa frágil, o nosso coração não pode estar em permanente excursão e, vistas bem as coisas, é sabido que o futuro da vida na Terra depende de todos nós.

Como diz o outro, vale a pena pensar nisto.

Agora, se me dão licença, vou mandar o meu CV para aquela vaga de consultora sentimental no Greenpeace.

13 Comments:

Blogger Nelson Reprezas said...

Eu fiz um post, assim... coisa mais levezinha. Mas tens razão. por isso é que não me lancei a celebrar o dia à séria.
:))
beijola

fevereiro 14, 2008 10:23 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

EHhehehe!

Quando escreveste:
Como diz o outro, vale a pena pensar nisto imaginei logo aquela voz profunda e calma.

:D

E mais uma questão ali para o rol:
Está disposto a abdicar de uma casa-de-banho de serviço, para a transformar no ponto de reciclagem lá de casa?

fevereiro 14, 2008 1:13 da tarde  
Blogger armando s. sousa said...

Sou fervoroso adepto da razão não se meter em coisas do coração.
Senão não vamos a lado nenhum...

Bom dia de S.Valentim e manda a razão dar uma volta.
um abraço.

fevereiro 14, 2008 2:59 da tarde  
Blogger Unknown said...

que post tao pouco romantico! isso, da-lhe no calentim, que o homem ja chateia (e quando vi uma rosa a 10 libras e uma orquidea a 22 libras, ainda mais!)
Beijos

fevereiro 14, 2008 3:25 da tarde  
Blogger Carlota said...

Ainda bem que não foi a séria, Espumante. Se fosse, eu não me teria divertido tanto a ler o teu post.

Problemas de falta de espaço, Claudette? :P

Pois eu acho que se a coisa for doseada desfazem-se menos famílias, Armando.

Mas, ó Melões, aonde é que poderás alguma vez ter ido buscar a ideia de que eu, eu!, sou romântican hein?... É que nem a brincar! :)

Beijolas aos quatro.

fevereiro 14, 2008 4:37 da tarde  
Blogger pessoana said...

Mas espera lá! Isto é uma declaração de amor, não é? Do género "juntos fazemos um mundo melhor", certo?

fevereiro 14, 2008 5:34 da tarde  
Blogger Mónica Lice said...

O emprego no Greenpeace está garantido!;-)

Beijinhos.

fevereiro 14, 2008 7:03 da tarde  
Blogger Carlota said...

Sort of, Ana, sort of... :)

LOL, Mónica! :)

Beijolas às duas.

fevereiro 15, 2008 10:09 da manhã  
Blogger S. said...

Aproveitando a onda sentimental, o Café com Leite tem um prémio para o Lote 5.º!
S.

fevereiro 15, 2008 10:59 da manhã  
Blogger Luísa Silva said...

Acho que vou fazer uma check list.

fevereiro 15, 2008 11:53 da manhã  
Blogger calamity jane said...

Tou contigo. Tb perco a pica com homens pouco ecológicos. (Ó Melões, ser amiguinhos do ambiente não nos retira o romantismo... pode até incrementá-lo. É tudo questão de imaginação ;-))

fevereiro 15, 2008 2:35 da tarde  
Blogger Carlota said...

Já lá vou, Coffee Cup! :)

LOL, Belém! :)

Podes sempre mandá-los fazer voluntariado no Greenpeace, Jane, a ver se aprendem alguma coisa! :)

Beijolas às três.

fevereiro 15, 2008 3:04 da tarde  
Blogger wednesday said...

Muito bem visto, não haja dúvida... ;) Uma perspectiva que ainda não me tinha ocorrido.

fevereiro 15, 2008 5:57 da tarde  

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