segunda-feira, abril 07, 2008

Apartheid linguístico na terra das frites


Durante a minha colheita dos ovos da Páscoa - e aproveito aqui para informar o lobby das amêndoas que isso comigo não pega porque evito a todo o custo cruzar-me com pacotes daquelas maravilhosas amêndoas que não duram dez minutos sem eu as comer todas, pelo que a minha preferência vai para os ovos de chocolate, aos quais ainda vou resistindo -, houve mais um estranho e psicadélico acontecimento que abalou o reino da Bélgica. E, não, não estou a referir-me à constituição do governo federal na sequência das eleições de Junho do ano passado.

Assim, a comuna flamenga de Liedekerke (que fica a 22 kms de Bruxelas) aprovou um regulamento permitindo aos responsáveis dos infantários a recusa da admissão de crianças que não falassem ou não compreendessem a língua flamenga. Não lhes passou pela cabeça os educadores falarem francês a essas crianças, cruzes canhoto!

Na sequência da aprovação deste regulamento, o jornalista e blogger Jean Quatremer, através do qual tive conhecimento destes factos, elencou um resumo das medidas discriminatórias que têm vindo a ser implementadas aqui e ali na Flandres, com a finalidade de preservar a cultura flamenga: fronteira linguística, separação dos partidos políticos, separação das ordens profissionais, separação da justiça, separação da educação entre flamengos e francófonos, proibição da sinalização do trânsito em francês, impedimento do acesso à habitação social aos não-flamengos, proibição da venda de terrenos comunais aos não-flamengos, proibição de se dirigir aos comerciantes em francês, proibição de publicidade em francês, recusa de nomear bourgmestres francófonos democraticamente eleitos por terem dirigido convocações em francês aos eleitores francófonos... Coisa pouca!

Contudo, e uma vez sem exemplo, esta disposição discriminatória teve vida curta. Alguns dias depois, o ministro da região flamenga para os assuntos internos anunciou que iria anular o dito regulamento, porque as crianças não podem ser discriminadas com base na língua. Mas nada de deitar foguetes. Os adultos podem!

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Dizer o que? Que eles não se tocam? Que mais umbiguismo não há? Que pretendem num futuro próximo adquirir a independência?

abril 08, 2008 1:30 da manhã  
Blogger Ana M. said...

Espera-se que, pelo menos, não enveredem pela chamada «guerrilha urbana» no calor de tanto separatismo!!!
Faz figas quando falares em «foguetes»...

Beijinho

abril 08, 2008 2:22 da manhã  
Blogger MRP said...

tu ao menos podes escrever assim, livremente, porque moras em bruxelas. eu cá, como habitante de uma comuna flamenga, tenho que ter muito cuidadinho com o que digo senao ainda acabo por aí apedrejado ou marcado com um leao nas costas!

abril 08, 2008 10:03 da manhã  
Blogger armando s. sousa said...

Isto é só o começo.

As pretensões independentistas da Flandres, irão fazer desintegrar a Bélgica como país.

Cada dia que passa, e com o fosso económico, a ser cada vez maior entre a Flandres e a Valónia, mais políticos e mais leis serão criadas, para satisfazer essa pretensão da Flandres.

Só já não aconteceu, pelo estatuto especial de Bruxelas, pois se a Flandres, pudesse contar com ela para capital, a Bélgica já era.

Logicamente, esta situação com as crianças não pode ser admitida, mesmo considerando, os belgas francófonos, como "estrangeiros".

Um abraço.

abril 08, 2008 10:32 da manhã  
Blogger NoKas said...

Tremo e subo paredes cada vez que oiço as coisas que se vão passando por este país! A verdade é que a Flandres tem tido digamos... "coragem"(no pior dos sentidos) política para transformar as coisas que se "falam" em realidade... Mas de ambos os lados oiço coisas horríveis que me entristecem muito... Tudo graças a anos e anos de pressão, eu sei! Mas que tal serem crescidinhos e de uma vez por todas acabarem com estas guerrinhas? Os meus amigos belgas falam, em geral, as duas línguas, estão-se nas tintas para estas guerras políticas e queriam era estar em paz!

abril 08, 2008 11:47 da manhã  
Blogger Unknown said...

reposta dum flamengo,
O tema da língua ,tem um sentido sensível para nos flamengos. Durante séculos estivemos mal tratados nosso próprio país, como cidadãos segunda classe. Assim como hoje em dia os portugueses na Suíça ou a exploração ruim de portugueses, mãos de obras baratas na Holanda ou os muitos africanos e brasileiros em Portugal.Seja que for, Cidadãos segunda classe.A Bruxelas falam se as duas língua apesar o facto que a cidade é uma cidade flamenga.Não penso que a senhora fale as duas línguas.Por isso é mais fácil negar o que não se compreende e insultar o que se inveja."

abril 15, 2008 9:07 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home