Quando faço perguntas estúpidas
Quase seis horas da tarde de um dia como os outros.
Não, não foi bem assim.
Quase seis horas da tarde de um dia de céu azul e sol morninho, para compensar a temperatura que não subiu além dos 14 graus mas que, mesmo assim, me fez usar roupa mais primaveril.
Seis horas da tarde, quer dizer que já é hora-de-ponta. As pessoas começam a dirigir-se a casa e há carros em fila por todos os lados.
Eu também me dirijo a casa. Venho a conduzir e em amena cavaqueira com o metro e vinte que se senta no banco de trás. Faço pisca, viro à direita e na rua de dois sentidos estreita e íngreme onde me encontro há fila no sentido contrário porque o semáforo está vermelho. No meu sentido, porém, a meio da rua, está um carro parado. Estacionado em plena rua. Acho que não consigo passar entre ele e os outros e aguardo, pois vejo uma mulher a aproximar-se.
Mais duas frases trocadas com o metro e vinte de gente e vejo que a mulher não se apressa a tirar o carro do meio da rua. Em vez disso, vislumbro-lhe um balde numa mão e um pano na outra. Não posso acreditar: a mulher está a lavar o carro!
Primeiro rio-me e depois enervo-me. Às vezes custa-me a acreditar no que vejo.
Em segundos, faço uns cálculos rápidos. Carrego no botão para recolher os espelhos retrovisores e avanço entre a fila do lado esquerdo e a lavagem de carros do lado direito. Abro o vidro da janela e pergunto à mulher:
- Acha que é uma boa altura para estar a lavar o carro?
E ela responde-me com aquele ar que só um belga consegue fazer*: - É que daqui a pouco escurece!
* Quem já por cá morou, percebe do que estou a falar. Os outros, que me desculpem, terão de esperar o dia em que ensaiarei a explicação deste ar a que me refiro.
Etiquetas: A vida na couve
15 Comments:
Ó Carlota ... francamente ... então querias que a senhora lavasse o carro à luz de lanterna ... ou pior à luz da vela?? ... tsssss ... tssss ... que má vontade :P
PS. Eu que nunca vivi na Bélgica espero então pelo dito ensaio
Admiro a tua paciência! Eu já decidi ignorá-los. Senão, ainda acabo a dizer palavrões o que é totalmente contrário à esmerada educção que recebi!
;-)
Beijos e pachorra
;-)
ai Carlota, Carlota, Carlota! tss! ... os belgas não entendem perguntas retóricas sarcásticas/irónicas! Tinhas mesmo que atirar-lhe com um (ostensivamente) educado "Madame, vous vous rendez compte que votre voiture bloque le trafic?".
Deculpa Carlota, mas tenho que dizer à Sinapse que o longo afastamento destas gentes a faz pressupôr que elas se importam minimamente com o facto de bloquearem os outros, de incomodarem, de pertubarem. Mesmo que reparem nisso, estão-se nas tintas!
(Era aqui que entrariam os palavrões...)
Beijos Carlota e Sinapse
Imagino que tenha começado a frase com um désolé, acompanhado de um encolher de ombros não?;-)
Beijos
já agora e para ajudar a compreensao de quem nunca viveu em Bruxelas, falta dizer que os retantes belgas eram bem capazes de ficar, pacientemente e sem prostestar, à espera que a senhora acabasse de lavar o carro para conseguirem passar.
O bom senso tem limites mas a estupidez nem por isso...
Agora é que me tramaste, Ana. É que pôr um belga - ou qualquer outra nacionalidade - em palavras é mesmo difícil.
Tu, Pitucha, a dizer palavrões? Quero ver!
Brikebrok, que bom ver-te por aqui! Parece-me que sabes do que estou a falar, não é?
Tens razão, Sinapse. Aliás, esse é um dos motivos pelos quais a pergunta foi estúpida. Não obstante, a Pitucha também tem razão. A mulher estava-se nas tintas para os outros (very tipical).
Não, nada disso Periférico. A resposta foi tão-só: il fera sombre bientôt. O désolé já implicaria reconhecer que ela estava em falta, o que, para ela, não era de todo o caso.
Bem apontado, MRP!
Esse comentário é muito generalista, JG. Eu acho que o bom senso naquela mulher era pura e simplesmente inexistente. Ou estavas a referir-te a mim?
Xi-cos.
A minha experiência com Belgas foi reduzida a um: "Tenho amigos tugas, espanhóis, italianos e romenos, não vos quero para nada."
;)
Eu não vivi na Bélgica, mas vivi no Canadá (1980) e por lá as coisas só se fazem quando o calendário diz. Se é dia de rir, temos de rir, se é dia de lavar os carros é para lavar carros. Se o horário é aquele não faz diferente. A minha melhor cena foi quando comprei o primeiro carro. Eu estava habituada a que viessem com pneus, jantes, etc. Ali não. Era a carcaça e o resto comprado à peça...e o canadiano que olhava espantado como se eu fosse um ET!
Parece que no Canadá ainda são mais tarantas do que na Bélgica!!!!
Carlota, mas tu lá és Belga ou coisa que o valha?!?!
A sério, Claudette? Não me digas!?
Tenho uma para a troca, GJ: aqui, o conceito de casa nova pronta para entrega não abrange a pintura das paredes. Não está incluído no preço, désolé.
Já vou tendo uns tiques, JG. Espero que já tenham descoberto a cura no dia em que me for embora daqui.
Estou agora a lembrar-me que numa festa Erasmus, apareceu um Belga que apenas tinha sido convidado porque no ano anterior tinha sido Erasmus em Granada.
Ele bem que lutou para se integrar, e contar piadas (tinha piada vê-lo neste esforço)! Quando começou a agir como latino teve sorte. Mas era apelidado: o esquisito.
;)
hahaha!!! fantástico!! :)
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