sexta-feira, novembro 18, 2005

Perguntas de José Manuel Fernandes


Porque já tinha saudades de ler outro jornal que não o DN, porque gosto de ler muitas das coisas que escreve o José Manuel Fernandes, porque há vizinhos que vêm aqui que também não têm acesso ao "Público" e, sobretudo, porque ADORO ver os políticos levar tareia (a minha aversão aos políticos em geral agravou-se desde que tive contacto directo com os bichos enquanto trabalhei no Parlamento Europeu), aqui deixo este texto que o meu amigo António teve a amabilidade de me enviar hoje. Mais uma vez obrigada, António!


Perguntas
José Manuel Fernandes

Quando mais fala o Governo do TGV e da Ota, mais incongruentes surgem ambos os projectos.
Num frenesim nada esclarecedor, o Governo tem vindo a "libertar" cirurgicamente pedaços de informação sobre os projectos da Ota e do TGV. O ruído é muito, a coerência pouca, a evidência de que tudo está mal pensado imensa.
Coloquemos, pois, algumas perguntas, para as quais não encontrámos respostas coerentes. Ou sequer tentativas de resposta.
O ministro diz que quer criar um comboio rápido entre a Gare do Oriente e a Ota, o qual permitiria aos passageiros chegar ao aeroporto em 17 minutos. Para tal, utilizaria a Linha do Norte, menos sobrecarregada após a construção do TGV, mas não esclarece como ligaria essa linha à Ota, pois ela passa muito longe do novo aeroporto. Também não esclarece se o seu shuttle, futurista e sem condutor, circulará metade do caminho na Linha do Norte, que tem bitola ibérica, e outra metade na nova linha do TGV, que tem bitola europeia. Já quem conhece o "aperto" que constitui, para a expansão da Linha do Norte, o "gargalo" de Vila Franca de Xira, onde não há espaço para meter nem mais uma agulha, interroga-se sobre por onde passará a linha do TGV. Será que vai ser necessário construir uma nova ponte para o Barreiro para meter lá o novo comboio, fazê-lo passar depois pela lezíria - com que impacto ambiental? - e, após tortuoso "esse", levá-lo até à Ota?
Outra questão sem resposta é a do tráfego esperado na ligação Lisboa-Porto e quanto tempo poupará uma linha de alta velocidade face ao melhoramento da Linha do Norte. É ou não verdade que, se os estrangulamentos nela existentes forem eliminados, essa ligação pode ser feita em duas horas e um quarto, talvez menos? Sendo assim, vale a pena investir num TGV para ganhar uns 20 minutos na ligação Lisboa-Porto?
E, já agora, como pensa o Governo resolver o problema da criação do corredor onde passará o TGV, já que este terá de ter entre 500 e mil metros de largura e estamos a falar da zona do país mais densamente povoada? Recordar-se-ão as doutas autoridades de como foi difícil fazer passar um simples gasoduto, com anos de atrasos nas expropriações? Terão ideia de que rasgar um corredor para o TGV corresponde a criar abrir um lenho no território duas a três vezes mais largo do que o de uma auto-estrada? Convinha não esquecer que a orografia e a ocupação rural e urbana do litoral português, para onde se "entornou" quase toda a população do país, pouco tem que ver com as planuras desertas onde Espanha planeia fazer passar as suas linhas de alta velocidade...
Falando de Espanha, será que podem explicar-nos que tipo de linha tencionam "nuestros hermanos" construir entre Madrid e a fronteira? Olhando para os documentos oficiais espanhóis, percebemos que será uma linha mista, para passageiros e mercadorias, a qual fica pelo menos 15 por cento mais cara do que uma linha só para passageiros. Ora nesses mapas essas linhas mais caras são as que servem as regiões espanholas com menos tráfego, o que não deixa de ser misterioso. A não ser que, em vez de essas linhas serem de alta velocidade, serem apenas de velocidade alta... Nesse caso, será que estamos a comer gato por lebre?
Poderá também o ministro explicar por que vai construir uma linha de metro para o actual aeroporto da Portela, se tenciona desactivá-lo? Será que espera encher esses apetecíveis terrenos de construções? Ou que, destinando-os a um parque urbano, entende ser útil levar o metro para um jardim, quando há tantas zonas de Lisboa densamente povoadas e mal servidas? E não estará a mangar connosco quando sugere que vai propor a realização de um concurso de ideias para aqueles terrenos, quando eles têm de reverter para os seus antigos proprietários se deixarem de servir o aeroporto?
Por favor: não julguem que os portugueses são tontos.

6 Comments:

Blogger Xixao said...

Mto bem. Bom post!

novembro 19, 2005 9:06 da tarde  
Blogger Xixao said...

Já te linkei.

novembro 19, 2005 9:16 da tarde  
Blogger Carlota said...

MCM: Obrigada pelo link. Também já te linkei, já viste?

novembro 20, 2005 11:46 da tarde  
Blogger Carlota said...

Albatroz2: Eu é que agradeço. O elogio e a visita. Já vou visitar-te...

novembro 20, 2005 11:48 da tarde  
Blogger Pitucha said...

Impressionante! Acho que vou passar a seguir este assunto com mais atenção!

novembro 21, 2005 9:03 da manhã  
Blogger Carla Motah said...

Pois, o problema é que os políticos continuam a achar que somos todos uma cambada de totós.Bom post e obrigada pelo link. Beijinhos.

novembro 21, 2005 10:25 da manhã  

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