Hora do ataque de pânico
Estava disposta a passar por este dia que nem uma bala.
Mas tal só seria possível se estivesse isolada numa cabana nas Ardenas, rodeada de neve, inacessível, sem rádio e sem televisão.
Como não é isso que se passa, lá acordei com o noticiário das oito a bombear-me com la journée internationale de la femme. Cheguei ao trabalho, entro na cafetaria para tomar o meu Illy e deparo-me com um cartaz escrito à mão - e com erros - que me desejava bonne fête des femmes. Ligo o computador, e vejo vários e-mails alusivos ao dia. Ligo-me ao meu Kinja e encontro a blogosfera inundada de posts sobre o dia internacional da mulher…
Por tudo isto, vão compreender-me se tiver aqui um pequeno ataque de pânico. Se me dão licença… - SOCORRO, tirem-me deste filme !!! E não respondo por mim se alguém me entrar pelo gabinete dentro com flores ou chocolates!
Lamento, mas este dia internacional das mulheres não é para mim. Eu atingi um estádio na vida em que não luto pela igualdade de tratamento, nem por salário igual para trabalho igual, nem pela conciliação da vida profissional com a vida familiar, nem pela paridade.
Quem quiser ter essas coisas todas, homem ou mulher, que lute por elas! Mas que lute como deve de ser e que vá até ao fim nas suas convicções! Porque não basta ter só garganta e apregoar a igualdade como o fazem por aí muitos e – mais grave! – muitas, como uma mulher para quem trabalhei que era só direitos das mulheres e igualdade de oportunidades para cima e para baixo, conciliação da vida profissional e familiar para a esquerda e para a direita e que ao fim de dois dias de eu estar em casa com o meu filho doentíssimo estava a telefonar-me a exigir que eu voltasse ao trabalho, dizendo : “Mas você trabalha para mim!”. Como se um contrato de trabalho deitasse por terra todos os direitos que eu e ela sabíamos que eu tinha, mas relativamente aos quais tive de lhe avivar a memória num tom que os vizinhos do lado com toda a certeza ouviram.
Acresce a isto que penso que muito do que se reivindica à sombra dos direitos das mulheres, como a luta contra o tráfico, o combate contra a violência doméstica, as políticas sobre assédio moral e sexual, a protecção e a inclusão social, não são mais do que assuntos de direitos humanos. Não vejo o motivo pelo qual se tenha de abrir um ramo específico para tratar as mulheres nessas matérias, quando elas afectam homens, mulheres e crianças e acho verdadeiramente insultuoso que o façam. Quanto a quase tudo o resto que é invocado ao abrigo dos direitos das mulheres, são para mim balelas, politiquices, oportunismos, demências e falta de escrúpulos!
15 Comments:
Continuação de um bom dia para ti, na mesma!:)
Beijinhos!
Não estou de acordo! Quanto à necessidade do dia, claro.
Mas falaremos em bilateral se quiseres.
Beijos
Gostei!
Tens toda a raqzão em dizer que somos bombardeados com o feliz dia da mulher, realmente é um horror, isto não serve para nada!
Já agora, um dia feliz, independentemente de este ser ou não dedicado á mulher.
Como sosmos mulheres, todos os dias são nossos e cada um á sua maneira
Uma beijola de aplauso pela tua sensibilidade e pela tua clarividência. Na minha pessoalíssima opinião, claro :)
O ideal seria que não fosse preciso comemorar o Dia Internacional da Mulher.
Quando isso acontecer,será certamente o maior feito da Humanidade.
Um abraço.
eu nem digo nada carlota, já dei umas quantas respostas tortas aos "feliz dia da mulher" e fico-me por ai, mas é apavorante é.
**
és das minhas...
Ainda nos falta andar muito, para chegar a toda essa igualdade. Até lá, nada como ir conseguindo, passo a passo. :) Uma flor, para ti. Só porque sim.
com o que circula por todo o lado e o aparato que fazem de certo modo não concordo.
tem talvez a ver com o modo como olham e pegam as coisas, isto na minha ideia claro.
:)
Tenho de confessar, Ana, que desconhecia a vertente comercial da coisa... :)
Obrigada, A lice! Para ti também.
Pitucha, bilateremos então em frente a uma bela pizza do Mano a Mano, logo que possível.
Bem vinda ao Lote 5 Clotilde! E um excelente dia p'ra ti também!
Outra beijola, Espumante, mas em vénia, a agradecer a tua opinião!
Estou plenamente de acordo contigo Armando. Só espero que esse dia não demore a chegar.
Sabes Rafaela, eu acho que também fui um bocadinho torcida neste post... mas agora já está!
A bem dizer, Araj, a bem dizer!:)
Beijolas a todos!
Torcida?!... eheheh nãaaa... mais tipo... videira.
Mas olhe, eu também não concordo com o dia 8 de Março só por um motivo: na minha empresa há a "tradição" de liberal as mulheres do trabalho à tarde, e isso priva-me a mim da companhia delas... tenho pena. Tudo o resto que seja enaltecedor da mulher... seja lá como for, sou a favor.
Se quem festeja muitos dias 8 de Março ao longo de um ano,
Um beijinho especial (e porque também sou um bocadinho torcido) por este dia especial, da mulher, das mulheres... (e agora censure-me. Não exiba este post ;) )
Tá Difícil
Já pus a flor numa jarra. Obrigada Folha de Chá!
Um Outro Olhar, no caso português, o aparato utilizado pelos políticos é pura e simplesmente demagógico.
Censurar um comentário, eu, Tá Difícil? Só porque não estamos de acordo?... Nem pensar!
Beijolas
Pois a mim o mote do dia (o 'das mulheres') passou-me ao lado ...
Mas gostei do teu tom!
Beijinhos *
Para mim o Dia Internacional da Mulher apenas tem sentido para lembrar que muito há ainda para fazer!! Mas sou da mesma opinião do Armando, o melhor seria era que este não existisse nem que nunca tivesse havido necessidade da sua existência!!
Pssei por cá através do blog da TétÉ!! Gostei!!
Voltarei certamente!
Como te deves lembrar, eu falei no dia, mas numa perspectiva histórica, porque tem mesmo de ser assim!!! Não sei se concordo com tudo o resto serem balelas, mas há ainda um longo caminho a percorrer!
Beijito*
Enviar um comentário
<< Home