Os três tipos de estarolas
Cada vez que volto a Portugal, verifico que as coisas estão mais na mesma. E tenho medo. Muito medo.
Os portugueses vivem apressados. Sempre em correria. A pé ou ao volante, há que acelerar, que é sempre hora de estar já noutro lugar e ainda faltam quinze minutos para lá chegar. Estes atrasos crónicos são um dos motivos pelos quais se conduz tão depressa em Portugal.
Na auto-estrada, para me proteger dos "Pepes-Rápidos", encosto-me à direita e raramente ultrapasso o limite de velocidade. Só saio para a faixa mais à esquerda quando tenho de ultrapassar o caramelo que insiste em manter-se a pastar na faixa do meio. Mas vou ali, encolhidinha, a temer pela minha vida. É que nunca sei se algum artista virá esborrachar-se de encontro ao meu carro, vindo de trás, do lado ou mesmo da faixa do sentido contrário.
Também sei que outro dos motivos das velocidades excessivas é o puro exibicionismo. Os portugueses gostam muito de se vangloriar dos seus recordes. Adoram dizer – e isto só a título de exemplo –, que só levaram hora e meia de Lisboa até ao Algarve. Mesmo que a hora e meia conte desde que passam a ponte até à entrada da Via do Infante, pois isso são pormenores de somenos importância...
Para manterem a sua reputação de ases-do-volante percorrem as auto-estradas a velocidades suicidas e, mais grave, homicidas. Nunca em nenhum outro país europeu em que eu já tenha conduzido tive oportunidade de os ver passar que nem balas, uns atrás dos outros. É um verdadeiro pesadelo.
Outro móbil horrível que leva os portugueses a ter o pé pesado: o picanço. Não há quem se pique mais ao volante do que os meus compatriotas. Picam-se os que querem passar com os que não saem da frente, picam-se os que saem da frente com os que querem passar até os passarem mais à frente. E muitas vezes acabam em picadinho, esborrachados no meio da picadora ambulante que é o carro que têm nas mãos.
Dos milhares de acidentes de automóvel que ocorrem anualmente em Portugal, resultam milhares de mortos e de feridos. Morrem os apressados, os exibicionistas e os que se picam. Morrem mais uns quantos que não têm culpa de nada, a não ser de estar no local errado na pior das horas. Sofrem os que lhes sobrevivem.
34 Comments:
Tudo isso é verdade, mas tens ainda de acrescentar um outro grupo: aqueles a quem o teste do balão não mete medo.
Tenho pavor de acidentes, e pânico de levar com um bêbado em cima. De mim ou de outros.
Tens razão, MCM. Só que optei por me ficar pelas "estaroladas sóbrias"...
Beijola
Excelente post!
ai o 'picanço' ... é impressionante, cada condutor julga-se melhor que o outro e julga o outro um palhaço ... e 'o outro' está precisamente a fazer os mesmos julgamentos de cada condutor ...
Situação típica:
- o condutor chico-esperto violenta o carro da frente com frenéticos sinais de luzes (acompanhados por sibilantes 'sai da frente, palhaço, azelha', isto e aquilo) ...
- mas ai de quem tenha a audácia de fazer-lhe sinais de luzes a ele ... reage (como se nunca tivesse feito sinais de luzes a ninguém) com uns impropérios cheios de ódio 'que é que queres, palhaço?!!?! olha m'este!!! qu'é que queres?!!' ... e, invariavelmente, vai picanço ...
Fico doente. Não suporto. Nunca vi essas atitudes a não ser em Portugal (se bem que ... admito que em Espanha e Itália tb se passe o mesmo!... não achas?) ...
(oops, grande comentário ... sorry, deixei-me levar pela indignação que o tema me provoca)
Gosto dos teus grandes comentários, Sinapse. :)
Em Espanha nunca vi grandes ases do volante e em Itália, nunca conduzi...
Beijola
E os condutores... que nas três faixas das auto-estradas ...passam a vida na faixa do meio... os chamaods "cromos da faixa do meio"... sempre à espera para passar para a da esquerda ou da direita.... AIAIAIAI!!
Tem graça, Papoila... Nunca tinha pensado que o objectivo de eles irem na faixa do meio era esse...
Sempre pensei que iam meio-adormecidos...
Beijola
excelente post
já assisti, e fui obrigada a passar por algumas dessas situações...
tal como dizes senti-me "encolhidinha"
:)
Carlota
Ja reparaste que ninguém, mas ninguém, admite que faz erros ao volante? É vê-los ali a responderem na televisão "eu! eu é o respeito total e o código da estrada é a minha bíblia". Pois eu gosto de andar depressa (admito) quando a estrada está vazia. Passo amarelos na cidade porque sou muito impaciente. Buzino aos cromos que se plantam na faixa do meio das auto-estradas porque não suporto gente burra e faço sinais de luzes a quem andam com os máximos (parece ser uma nova moda em Portugal). Portanto sim, já desrespeitei o código da estrada.
Agora, como eu nunca causei um acidente e como mais ninguém desrespeita o código, temos aqui um mistério a resolver: quem causará os acidentes em Portugal?
Beijos
Obrigada, Um outro olhar.
Espero que o facto de andarmos tão encolhidas não nos diminua o tamanho... :)
Eu, Pitucha, de quando em vez, também passo os amarelitos. Sobretudo quando estou atrasada, lá está. :)
Mas quanto a andar depressa, mesmo com a estrada vazia, já lá vão os tempos. Fazia-o quando não levava ninguém no carro.
Mas agora as responsabilidades são outras. E não quero correr o risco de deixar o meu filho sem mãe... :)
Beijolas às duas.
Road Rage - um fenómeno interessantíssimo (de um ponto de vista sociológico) !
Fui ver, Sinapse. É interessante, sim! E perigoso!
Beijola
Grande post carlota, parece que as pessoas não vêem as noticias, que se acham tão omnipotentes, pensam que não vão morrer nunca, que conduzem melhor do que os outros, que quem cumpre os limites é um betinho. essa série de situações que referes acabam como tu dizes muitas vezes em morte, mas nada se faz para mudar, ou ninguém muda apesar do que se faz.
como a pitucha também gostava de ver resolvido esse mistério.
Será o picanço uma questão genética? mistério. Mas acho que o nosso comportamento nas estradas se enquadra na forma do "chico esperto" que domina todo um comportamento colectivo. Tolo é quem cumpre, o importante é não ser apanhado. Civismo, responsabilidade infelizmente não fazem parte do vocabulário corrente!
Beijos
Como país pequeno temos demasiadas coisas grandes, tais como a falta de civismo, a morte continua a entrar nas nossas casas todos os dias através dos media, olhamos quase com indiferença, é já uma imperfeita banalidade os nossos números de mortaalidade na estrada...
Talvez seja este o problema...comodismo...
Pois é Rafaela! Mas mais vale uma betinha viva do que um cadáver do antónimo de betinha (que desconheço)!
Beijola
Recebi por e-mail um cartoon que ilustra o teu comentário, Periférico! Se não o apaguei já, ainda faço um post...
A banalização da morte é grave, mas é verdade que é uma realidade cada vez mais comum, Joca. Muitas vezes já nem lhe ligamos. A não ser que nos toque de perto, claro!
Beijolas a ambos.
A minha teoria sobre os carros e a velocidade, é que todos os gajos que têm um pénis pequeno, gostam de carros grandes e potentes. Num recente estudo, a maioria das mulheres portuguesas não estão satisfeitas com o seu parceiro sexual, pelo contrário, a compra de carros de alta cilindrada não para de aumentar.
É uma teoria, como outra qualquer.
Um abraço.
Antes que alguém pergunte, tenho um Mini (é mentira).
Já dizia o Eça de Queiroz, que passados dez anos quando Carlos regressou a Lisbo, encontrou as mesmas pessoas no mesmo local a fumar o mesmo cigarro...
A melhor definição que ouvi sobre esta matéria foi de um estrangeiro que disse que os portugueses guiam como se tivessem acabado de roubar o carro.
Sabes, Carlota? Já me espantei mais com a condução dos portugueses. Agora que os conheço melhor... acho que a condução que temos está em perfeita harmonia com aquilo que somos.
Talvez não me tenha expressado bem, mas como no outro dia disseste que não eras loura, deves "de ter" entendido :))
Beijolas
Como entendo os seus "medos"...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Mas que teoria tão elaborada, Armando...
Eu acho que merecia ser investigada! Sobretudo porque não me agrada a parte que explica a aquisição de carros de alta cilindrada por parte das mulheres.:)
Só para ver se se comprovava mesmo!
Não tinha a intenção de plagiar Eça, Araj, nem passaram dez anos desde a última vez que estive em Lisboa, mas o resto corresponde bastante à verdade. :)
Expressaste-te lindamente, Espumante. Como é teu apanágio, aliás!
Estou plenamente de acordo com o que afirmas. Foi por aí que fiz o post, razão pela qual não falo do que se bebe e apenas do que sobriamente se é.
São medos reais, Cuco. Podemos tirar-lhes as aspas! :)
Beijolas a todos, sendo que desta vez "todos" são mesmo homens!
(E tenho a impressão de que é a primeira vez que acontece nesta quantidade...)
Tal e qual assim. :( Infelizmente. :( Não haverá uma educação qualquer que os ponha «no sítio»? :(
Ena, fiquei honrado por inspirar-te um post ;-)!
O cartoon retrata bem o espiríto do que o importante é não ser apanhado e não os riscos de tais comportamentos!
Beijos
Não me parece Folha de Chá... pelo menos nas duas próximas gerações!
Já te respondi, Periférico, no post do cartoon.
Beijolas aos dois.
Os tugas são perigosos ao volante...mas não estão sozinhos!!Ainda ontem estava eu descansada da vida a entrar na autoestrada, a preparar-me para passar na via verde qdo vejo um carro a fazer marcha atrás já em plena via verde!!!...e tinha matrícula bem AMARELA!!!Não é uma questão de nacionalidade, mas de responsabilidade...
Olá M!... Seria um emigrante português? :D
Beijola
bem sou mesmo portugues. bruxelas paris tem de ser em menos de duas horas e meia
Excelente post!
É que é mesmo assim.
era bem capaz...se bem que ainda n estamos bem na época!! ;)
Então, Cão Traste, tens o pé pesado?... :)
Obrigada, Rita!
Beijolas a ambos
Sabes, M?... Pode ser um daqueles emigrantes que vendem gelados nos país onde estão e que só podem visitar a terra Natal no Inverno (ou já na Primavera)...
Beijola
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