segunda-feira, maio 08, 2006

Ó Evaristo, tens cá disto?!...

Prólogo
Numa loja de telemóveis, do género The Phone House, uma menina com imensos folhetos de determinado operador de telemóveis tenta convencer um potencial cliente a mudar de rede móvel, face aos excelentes preços praticados por aquele operador. Debita sem respirar todas as vantagens que decorou e, chegando ao fim, pára para retomar o fôlego.
O cliente medita um pouco, vira e revira o folheto que tem na mão e, finalmente, pergunta:
- Muito bem. E esta assinatura tem roaming? Onde é que posso encontrar a lista dos países aderentes e as tarifas?
A menina olha para o cliente com os olhitos esbugalhados e, depois de engolir em seco, lá consegue balbuciar:
- O que é o roaming?...


Fazem-me falta aquelas lojas à moda antiga em que senhores simpáticos e bem-educados nos atendiam por detrás de um balcão de madeira, sempre de sorriso em riste, genuinamente disponíveis para nos prestar o melhor serviço.
Tenho saudades dos dias em que ia com a minha tia à rua das lojas para comprar tecidos e linhas para ela me fazer vestidos e em que passávamos sempre pela Loja do Zé e pelo Leitão ou pelo Patrício. E tenho pena de não ter aqui mais a jeito aquelas magníficas drogarias onde conseguia encontrar praticamente tudo, desde palmilhas para os sapatos até tinta-da-China, rolhas em cortiças para frascos, esticadores, alguidares de todos os tamanhos e cores e escadotes. Ainda hoje, quando passo por uma dessas drogarias que ainda se mantêm abertas, sou capaz de me perder a olhar para a montra e de chegar a entrar só para admirar toda a babilónia de produtos à venda.
Foi com pena que vi encerrarem todas as lojas mais emblemáticas do comércio tradicional da cidade onde vivi mais de vinte anos. E no lugar delas ver abrir… sobretudo agências de bancos e lojas de telemóveis. Deixei de ter gosto em passar com prazer pela rua das lojas e a verdade é que já não lá vou há anos.
O comércio de hoje em dia perdeu a magia, o carácter e a qualidade de antigamente. Já ninguém quer fazer carreira em tipos de parafusos, tecidos de guarda-roupa ou em maçanetas de portas. Os empregos nas lojas são sempre passageiros e, mesmo assim, é raro haver alguém que queira ter brio naquilo que faz ou que faça um esforço para prestar um bom serviço. Mais raro, ainda, é ir encontrando alguém que perceba alguma coisa sobre o produto que está a vender. E o mal é generalizado, não se confinando às terras lusas.

22 Comments:

Blogger Mónica Lice said...

Realmente, o problema é mesmo o facto dos empregados serem passageiros, sem pretensões de fazer carreira em tal actividade!

maio 08, 2006 4:16 da tarde  
Blogger Pitucha said...

O cinzento ambiente e a chuva persistente são propícios a este tom nostálgico...
Que eu partilho, até por tradição. Mas, pensando bem, essas lojas são boas para se comprar aquilo que se sabe que se quer comprar (Queria naftalina, Sô Manel, e vai mais alguma coisinha Sô dona Pitucha Maria? Não Sô Manel, ai que me ia esquecendo o sonasol...) mas não dão para ir laurear a pevide com o objectivo descarado de se ser tentado por qualquer coisa que nem sabíamos que existia!
Quanto ao professionalismo dos vendedores, estamos de acordo. Fico possessa quando entro em livrarias e em vez de livreiros encontros uns seres amorfos que estão ali como podiam estar na tua The Phone House...
Beijos

maio 08, 2006 4:35 da tarde  
Blogger 'Tá Difícil said...

Olá Carlota

Eu ainda vivo num sítio onde lojas tradicionais existem, serviço de qualidade existe, simpatia e cordialidade existem. Mas as necessidades dos dias de hoje são, porém, um pouco diferentes e continuo a precisar de andar muitos quilómetros para comprar "aquele" livro, outros tantos muitos para ver "aquele" filme, comprar roupa ou sapatos que não sejam iguais aos de todos os outros habitantes desta cidade (sim, é cidade), e os mesmos para comprar qualquer cd (a exigência nem precisa ser muita, basta querer um qualquer).
Agora imaginemos que se juntam os dois "handicaps" no mesmo sítio...
O que relata no seu "post" e os de que falo no meu comentário... :))

maio 08, 2006 4:51 da tarde  
Blogger Araj said...

É a lei da cidade... despersonalizar tudo... o que interessa são os resultados, o restante são bagatelas…

maio 08, 2006 7:22 da tarde  
Blogger Folha de Chá said...

Que falta generalizada de formação, então. :(

maio 08, 2006 7:37 da tarde  
Blogger papoilasaltitante said...

Eu saliento a falta de formação a todos os níveis. Por vezes nem é preciso saber muito sobre algo...mas ao menos ser simpático! Detesto ser atendida por pessoas com ar de quem está a fazer um tremendo frete.
Por mim a máxima "o cliente tem sempre razão" deveria continuar a ter seguidores!Infelizmente tal não acontece! Por outro lado estou com a Pitucha em algumas das suas reflexões. Por aqui ainda vão sobrevivendo as lojas do chamado comércio tradicional, mas por vezes sabe tão bem entrar numa loja onde ninguém nos conhece e "pastar a vista" sem ser incomodado!!... Desde que seja com simpatia!
Bjs

maio 08, 2006 8:17 da tarde  
Blogger Periférico said...

Apesar do tom nostálgico deste post e da espantosa ignorância da vendedora sobre o roaming, é me difícil acreditar que a senhora Carlota não se perca de amores pelas drogarias modernas vulgo lojas de gadgets!;-)

Beijos

maio 08, 2006 8:17 da tarde  
Blogger Sinapse said...

Que posso acrescentar que não tenha sido ainda dito?

(é pr'aprender a chegar mais cedo às caixas de comentários!)

Eu sou muito dada a nostalgias. Mas, pelos vistos, não sou só eu. É um fenómeno geracional ... Já repararam como reeditaram aqueles sabonetes da Claus Porto? Como o 'creme gordo' da Farmácia Barral se vestiu de nova embalagen e reemergiu nas prateleiras dos supermercados?
Como começaram a reaparecer, como que por magia, os rebuçados Dr.Bayard, e também aqueles verdinhos pequeninos que nem me lembro o nome com sabor a eucalipto, ou seriam mentolados?... E tantas outras coisas, como os caderninhos a imitar os tradicionais cadernos de escola, etc, etc ...
Isto dava outro post ...

Nostalgia!

maio 08, 2006 9:16 da tarde  
Blogger deep said...

É bem verdade: o atendimento simpático vai sendo uma raridade, como essas lojas a que te referes, mesmo em cidades de província como esta em que vivo.
Bjs

maio 08, 2006 10:07 da tarde  
Blogger Carla Motah said...

Realmente existem cada vez menos essas drogarias. Eu adorava ir com a minha avó e ver os senhores com aqueles varas de madeira para medir os tecidos, o cheiro a plásticos e a profusão de produtos à nossa disposição. Só não gostava muito do mau hálito que geralmente os donos da loja exalavam, mas pronto.
Por cá ainda se vão vendo algumas, mas cada vez menos. Ainda no outro dia fui a uma em Almada e lá estava toda a panóplia de parafusos e o inolvidável cheirinho a plástico. Quanto ao mau hálito, não me lembro. Fiquei tão deslumbrada com o reviver dos tempos de infância que nem reparei.
Beijinhos

maio 08, 2006 10:12 da tarde  
Blogger Carla Motah said...

Ah e claro que concordo com a tua opinião relativa à cresente falta de formação e à impessoalidade no atendimento nas lojas. Enfim, sinais dos tempos.

maio 08, 2006 10:13 da tarde  
Blogger Carlota said...

E é uma pena, A lice...

Tu foste, ultimamente, a alguma drogaria, Pitucha?... Ficarias admirada com as coisas que podes descobrir. A sério.

É a velha história de que "uma desgraça nunca vem só", 'Tá Difícil... :)

Ou "quando a lei da cidade se assemelha à lei da selva", Araj. :)

Sim, Folhinha, o mal espalha-se com facilidade e é difícil de limpar. :)

Por acaso, Papoila, também adoro as lojas de self-service onde ninguém me chateia. Mas nas lojas especializadas, gosto de encontrar alguém que possa "chatear" e que saiba responder a todas as minhas perguntas.

Que comentário tão certeiro, Periférico!

Aqui nunca ninguém chega atrasado, Sinapse! E traz-me lá uns sabonetes do Porto, que o stock cá de casa está quase a acabar! :)

Beijolas a todos.

maio 08, 2006 10:26 da tarde  
Blogger Carlota said...

Eu até dispensava as simpatias, Deep, desde que se mantivesse o profissionalismo!

Ó Carla, quem imaginava que éramos almas gémeas em drogarias?...
Só me escapava essa do mau hálito (LOL!). Pelos vistos, os donos das drogarias que eu frequentava lavavam os dentes e mastigavam pastilhas elásticas!

Essa das montras, Teresa, ou da falta delas, dava outro post!

Beijolas às três.

maio 08, 2006 10:32 da tarde  
Blogger rafaela said...

Lojas em que se vendia fiado, ou se tinha conta pq se conheciam todos os clientes. Compreendo a nostalgia, vamos andando para frente, mas as vezes esse progresso nao é feliz.

=)

maio 08, 2006 11:23 da tarde  
Blogger Folha de Chá said...

Acabei de te convocar para uma corrente muito solidária, das que não dá para quebrar.

maio 08, 2006 11:37 da tarde  
Blogger MJ said...

Na cidade onde eu morava ainda há dessas lojas simpáticas em que se conhece o cliente e se é bem atendido por alguém que sabe o que faz. Mas tenho que confessar que na minha "segunda" cidade (Porto) ainda há imensas dessas lojas com pessoas (de idade é certo) que percebem daquilo como ninguém. Lojas de tudo o que se possa imaginar existem, só temos que as saber procurar.
E curiosamente, sou muito melhor atendida no norte do que em Lisboa e não digo apenas em simpatia, mas também em competência.
Beijinhos

maio 08, 2006 11:59 da tarde  
Blogger pinky said...

esse comércio á antiga é de facto uma delicia, mas olha que a baixa lisboeta ainda tem muitas dessas lojas qye coexistem com zaras, bancos, e lojas de telemóveis.
no alentejo então é só parares numa vila, encontras de certeza lojas dessas! Em bruxelas realmente não me lembro de existirem, mas lembro-me de uns cafés bem charmosos na baixa, em que os mais idosos bebericavam flutes de champanhe e vinho branco, um charme!

maio 09, 2006 12:26 da manhã  
Blogger teresa.com said...

eheh, mas afinal o que é o roaming?... olha que é bem complicado de explicar, eu já tentei!

maio 09, 2006 12:43 da manhã  
Blogger patchouly said...

Eu como estou lentamente a desistir de ser consumidor passo um bocadinho ao lado desta nostalgia (desde que se mantenham aqueles santuários onde há gente que sabe do que eu gosto de comprar:)).

Já ao lado do humor do primeiro parágrafo não consegui passar. Historiazinha hilariante carlota!

maio 09, 2006 1:48 da manhã  
Blogger patchouly said...

(não é o primeiro parágrafo que quero referir, é o prólogo, claro)

maio 09, 2006 1:59 da manhã  
Blogger K'os said...

não sou muito nostálgica nas lojas tradicionais do género que falas, gosto de olhar e ver o que quero sem confusões, e mistura de produtos, faz-me confusão ver muita coisa à mistura numa loja e com pouca luz(normalmente acontecia isso)

quanto à pessoas ... é falta de formação, saber e gosto

:)

maio 09, 2006 8:21 da manhã  
Blogger Carlota said...

É verdade, Rafaela, já nem me lembrava de que naquelas lojas se podia comprar e pagar depois...

Já lá vou espreitar, Folhinha.

Toda a gente sabe, MJ, que os nortenhos são bem mais simpáticos do que os sulistas. ;)

Eu sei, Pinky. Por isso adoro passear-me pela Rua dos Fanqueiros e por aquelas transversais cheias de retrosarias... :)

Sabes, Boleia? Alguém devia ter explicado àquela menina que "roaming" era uma nova forma de correr, a par do "jogging", mas com dois remos às costas! :D

A que santuários te referes, exactamente, Patchouly?... É que antes deveriam ser lojas de rolos de fotografias, mas agora não estou bem a ver o que possam ser... ;)

Engraçado, Um Outro Olhar, que menciones esse pormenor da ausência de luz natural. Corresponde à realidade, mas já não me recordava disso...

A tua mãe é uma mulher sábia, Ana!

Beijolas a todos.

maio 09, 2006 10:20 da manhã  

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