A negra história de Merchtem
Nesta comuna - algo parecido com um município, mas com bastantes mais poderes administrativos - foi recentemente aprovado, por unanimidade, um regulamento segundo o qual apenas se poderá comunicar em flamengo nas escolas públicas comunais.
Assim sendo, por exemplo, os pais francófonos cujos filhos estejam a estudar nas referidas escolas, só poderão dirigir-se aos professores em flamengo.
O burgmester de Merchtem justifica a adopção deste regulamento dizendo que é normal que a língua utilizada na escola seja o flamengo. Porque Merchtem é uma comuna flamenga e a educação é financiada pela comunidade flamenga. Tipo toma e embrulha!
O regulamento a que acima me refiro vai, contudo, mais longe e proibe que, no recreio, as crianças falem noutra língua que não a única permitida, sob pena de serem castigadas.
E assim vai este país... Pergunto a mim própria, qual Jô Soares, que mais lhe irá acontecer? Talvez um outro regulamento comunal que obrigue as crianças não flamengas a usar uma estrela amarela nos casacos?
Um blog belga por onde passei, referindo-se a este assunto, levantou a pertinente questão de se saber se, por exemplo, os cães de Merchtem também deverão ser obrigados a ladrar em flamengo. Um comentador desse blog deu logo a saber que as más-línguas dizem que os cães já ladram em flamengo.
22 Comments:
isto já foi feito na bretanha, no início do século XX, onde as crianças bretãs eram punidas por falarem em bretão nos recreios...estavamos na situação oposta, em que uma língua dominante queria aniquilar uma língua minoritária...agora, o processo inverso verifica-se!
Era por estas e outras que eu estava com a neura por a minha net não funcionar! Como podia saber destas coisas e desancá-los secretamente? Ai meus sais! Beijinhos
É de mim ou a Bélgica está a viver uma implosão nacional ao retardatário? Já tinha ouvido falr em crise de identidade nacional, mas o que relatas roça a xenofobia.
O Mundo vai todo de mal a pior.
Beijinhos
Nos tempos que correm, uma medida dessas é verdadeiramente absurda. Compreendo que se queira preservar a língua, mas há outras formas de o fazer...
Pois é, finalmente voltei: a casa e à net.
Beijos e bom fim-de-semana.
e com pequenas situações, se desenrolam desacatos maiores e as previsões no futuro não sabemos
...
os exageros e autoritarismos é o que dá
:)
Bom post e boa questao. A intolerância está na moda. Até na Belgica!
Mas que raio ... desconfio que o mundo sofre de Alzheimer ... tá tudo esquecido dos erros do passado ... acabei de ouvir que o Hugo Chavez que referendar a implementação de uma républica socialista com um presidente vitalicio (não sei pk deconfio que ele própio) ... motivo?? Desenvolver a democracia :s
Posso mudar-me para Marte?por favor!
AnaD
É uma situação recorrente e que diz bem das dificuldades que existirão sempre numa putativa integração europeia.
Beijolas
Ai... eu joje estou a levar tudo muito a sério...
:))))
Oh não! Então se eu fosse italiana e falasse no recreio em chinês com um amigo de África do Sul.... Seria expulsa da escola? Mas não é o governo flamengo que paga.... são os contribuintes! Ou eles têm uma fonte inesgotável de fundos e a qual nós desconhecemos? (Eu já sabia que alguns daqueles loiritos eram... assim.... um pouco extremistas, mas isto é um bocado.... estranho?!?!?!?!) E o contribuinte comum acha o quê? E os imigras que lá vivem???? Mas afinal o país tem ou não tem mais do que uma língua oficial? Nenhuma escola pode expulsar um aluno por falar uma língua oficial! Ou pode? Agora é que me desiludiram! E viva o coração da Europa!
Há coisas que simplesmente não fazem sentido... Pode ser que os "resultados" se virem contra quem, na sua inteligência, se lembrou de coisas destas!
e é assim que se reacendem os conflitos...
francamente não entendo, continuamos a não ter a capacidade de aprender com os erros do passado
beijocas
Estes belgas são loucos!!!!
aquando da elaboração dum projecto europeu partilhado, conheci dois belgas. uma da Flandres, ele da Valónia. ela, formal, competente...ele mais desinibido, mais brincalhão...
curiosamente, iam tentar partilhar um projecto de partilha.
e referiram, mais tarde, depois de conviverem melhor, a necessidade da cooperação dentro da Bélgica.
fiquei atónito.
agora, mais!
partilhar de partilha...qta redundância!
:)
é verdade que há uma política linguística de má vizinhança... e os belgas sabem disso... dos dois lados... mas mesmo os que compreendem os "enjeux" dessa política pseudo-bilingue se esforçam por se manter de um dos lados da fronteira, no monolinguismo mais excludente... é que aprender línguas dá trabalho... "que aprendam eles"...
Com tanta coisa importante com que se preocuparem andam em disputa por coisas que nada interessam. Ou muito me engano ou dentro de uma décadas passaremos a ter uma lingua universal, Inglês, e depois cada País terá uma lingua secundária que será a sua. já agora coitada de ti que tens que viver aí.
Que estopada, a Europa não se emenda. O fundamentalismo toma conta do planeta, nada mudou.
Não apendemos nem com as mais sangrentas lições
Enfim é a raça humana no seu melhor.
Beijos.
Nada a que não estejamos habituados linguísticamente falando na Europa... Recordo-me do caso galego em que há alguns anos atrás as crianças que não soubessem escrever e falar correctamente castelhano reprovariam de ano, mesmo que tivessem nota máxima às outras disciplinas... Isto foi uma tentativa de terminar com o Galego que saiu furada ao então governo de Aznar, pois os jovens Galegos ficaram ainda mais interessados por aprender a língua regional da Galiza.
Até mesmo cá em Portugal temos uma língua minoritária, esquecida e desrespeitada por quase todos os portugueses, o Mirandês. Ainda hoje estou para perceber a aversão da minha professora de línguistica ao Mirandês...
Este caso belga só me convence de uma coisa! Portugal não é tão mau quanto isso! Definitivamente!!!
Bjs!
"Té quim fim" alguém que se lembra do Mirandês, pois quando falo nele até parece que me querem bater. É língua oficial, não é? Tirem-me lá esta dúvida. Há uns anos atrás deixou de ser só um dialecto, não foi?
Ok fui investigar e o nosso mirandês é bem mais interessante do que eu pensava:
Segundo a bela da wikipédia: "não é língua oficial; administrativamente reconhecida no concelho de Miranda do Douro"
"A língua mirandesa é uma língua românica falada no Norte da Península Ibérica. É falada em Portugal, por quinze mil pessoas nas aldeias do concelho de Miranda do Douro e de três aldeias do concelho de Vimioso, num espaço de 484 km², estendendo-se a sua influência por outras aldeias dos concelhos de Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros e Bragança.
O mirandês tem três dialectos (mirandês central ou normal, mirandês setentrional ou raiano, mirandês meridional ou sendinês) e a maioria dos seus falantes são bilíngues ou trilíngues, pois falam o mirandês, o português e o castelhano."
....
"Embora ainda sem um estatuto jurídico e sendo escassas as medidas de protecção e promoção oficiais da Língua Mirandesa, o certo é que, fruto desse trabalho, a língua está, nos últimos tempos, a ser muito estudada, a revitalizar-se e a ganhar um estatuto de afirmação dentro e fora da sua região."
Achei isto aqui: http://mirandes.no.sapo.pt/PMLm.html
"Para efeitos deste documento:
1. a expressão "línguas regionais ou minoritárias" significa línguas que são:
i. tradicionalmente utilizadas dentro de um dado território de um Estado por um grupo de pessoas com a nacionalidade desse Estado menor em número que o resto da população;
ii. diferentes da língua oficial desse Estado;
nela não estão incluidos nem os dialectos da(s) língua(s) oficiais do Estado nem línguas de migrantes". (Inclui porém as chamadas "non-territorial languages", ou seja, línguas de populações sem território estabelecido).
Desde a altura do seu aparecimento (1992) até agora, esta definição de língua minoritária e a própria denominação ("menos usada", "regional", "ameaçada"...) têm sido alvo de inúmeros debates e publicações. A página "Web of Words" (que se pode encontrar em www.eblul.org/) apresenta uma definição simultaneamente menos formal e mais ampla: trata-se de línguas cuja utilização está em perigo ou tende a desaparecer e de línguas que não beneficiam de direitos. Estão no primeiro caso as línguas cujo número de locutores está a diminuir e que não são transmitidas, ou o são pouco, às gerações seguintes; no segundo caso estão as línguas que não dispõem de um grau mínimo de co-oficialização na zona onde são tradicionalmente utilizadas.
Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias - Em nome da preservação dos valores e tradições culturais da Europa, dos direitos fundamentais do homem, da construção de uma Europa baseada em princípios de democracia e de diversidade cultural, foi adoptado um documento visando a protecção das línguas ameaçadas existentes na União Europeia.
E já agora, blog do Mirandês: http://mirandes.blogspot.com/
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