A minha colecção de coisas irritantes
Para ser sincera, nunca tinha tido tempo para, com verdadeira atenção, folhear o Sol. E só hoje descobri que, ao contrário do Expresso, disponibilizam online à segunda-feira a versão completa que saiu no sábado precedente. Acho que sei porque o fazem. Entre outras razões, porque publicam coisas tão estúpidas como a que a seguir transcrevo, sob a égide de um 'consultório de etiqueta'. Não pode haver quem pague uma assinatura para depois ler coisas deste calibre.
Pergunta: Fui há dias interpelada rudemente por um casal de meia-idade, por estar a dar de mamar numa pastelaria, como se fosse uma ordinarice. Diga lá se, nas suas regras de etiqueta, a amamentação de um bebé não é a coisa mais natural do mundo?
Resposta: A amamentação é realmente uma das coisas mais naturais do mundo. Mas muitos dos actos mais naturais do mundo fazem-se em privado. Já aquela moda que houve de transformar os partos (outra coisa naturalíssima) em filmes domésticos me parecia bastante repelente. Sempre compreendi que o meu marido, mesmo às vezes pressionado pelos médicos, preferisse esperar pelos nossos filhos fora da sala de operações.
(...)
Uma mãe explêndida tem certamente um peito elegante, mas que não apetece ver na protuberante fase de lactância em funções demasiado naturais. Repare que as pessoas, quando se lhes depara esse espectáculo, normalmente desviam o olhar. É espectáculo que as mães, por muito orgulhosas que estejam a alimentar os seus filhos, não devem fazer em público. Nem numa pastelaria, nem no metro, nem na rua - há actos naturais e correntes que exigem recato e devem fazer-se em privado.
A inclusão destas secções de consultório numa publicação faz-me sempre lembrar a velha Maria. A variedade de assuntos idiotas que se abordam nas perguntas e a estupidez e presunção das respostas são coisas que me irritam e, sinceramente, era coisa que não esperava num jornal que, de início, deu a entender que entrava no mercado para fazer concorrência ao Expresso.
Em tempo: Na minha busca de imagens para ilustrar o post, fiquei a saber que a Maria sobreviveu até aos dias de hoje. E ainda se diz que não há mal que sempre dure...
Outros artigos da colecção: o papel higiénico, as instruções dos medicamentos e as colheres no lava-louça.
Etiquetas: colecção de coisas irritantes
13 Comments:
Leio o Expresso desde que me conheço e também leio o Sol desde o primeiro número.
Não costumo ler essa parte do jornal, aliás para mim é para aumentar o número de páginas do semanário, para poder valer os dois euros que custa.
No entanto compreendo a introdução dessas páginas no jornal, pois segundo o seu director escreveu, num dos primeiros números, o Sol além de querer conquistar uma importante fatia dos leitores do Expresso tinha como público alvo, as mulheres.
Eventualmente é esta a explicação para ser em muitas páginas a reprodução da revista Maria.
Um abraço
Não sei se acho mais idiota a pergunta se a resposta. A Maria resiste porque vende e é baratinha. O Sol acabará por se pôr, se insistir neste tipo de "jornalismo". Expresso soma e segue. Mas porque é que já mais nada me espanta?
Beijinhos
Bom, pior do que aquelas historietas que o José António Saraiva escreve na revista "Tabu" não é com certeza.
E pelo menos a 'Drª' não deu a resposta politicamente correcta que seria qualquer coisa como "Dê de mamar em publico à vontade porque é a coisa mais natural do mundo e que deve ser partilhada com toda a gente!"
Bem visto!
Acho a pergunta idiota, mas uma vez posta, concordo com a resposta!
Beijos
:-D
Maria!!! Será que li bem?
bjs
Eu acho que a expressão "o pai espera à porta da sala de operações", como se o parto fosse uma intervenção cirúrgica, diz tudo...
Bem ... tom e petulância à parte ... concordo com a reposta.
Tenho uma ou duas amigas que faziam isso em público, quando estritamente necessário, mas faziam-no de forma tão discreta (e elegante) que não se lhes via um centímetro de pele!
Mas não é por serem minhas amigas que vou dizer que acho bem ... Eu não gosto! ... pelo que, no geral, concordo com o conteúdo (e não a forma) da resposta dada.
Como sabes, não leio nem o Sol nem o Expresso! ;))
Também li e achei uma idiotice, tanto a pergunta como a resposta.
Bjs
É sempre reconfortante saber que as mulheres continuam a ser objecto de tratamento especial, Armando...
:S
Não acredito que já nada te espante, mesmo, Azulinha.
Não posso comparar, Ricardo, porque desconheço as historietas.E, não, de facto a resposta não foi a politicamente correcta; foi a estupidamente conservadora. :)
Ah, mas eu uso lentes, Jorge! ;))
Eu não, Pitucha.
Ri-te, ri-te, Cerejinha! ;)
Leste, pois, Skyman!
É, precisamente, um dos excelentes exemplos de parte estúpida e petulante da resposta da senhora, Gralha.
Eu não, Sinapse.
Idiotice?... Estás a ser boazinha, Leonor... ups!, Papalagui? :))
Beijolas a todos.
Para dar o benefício das dúvidas, comprei o Sol 1 mês, a par com o Expresso. Depois desisti, até porque não tenho de cumprir a penitência de ver (porque não leio) as tristes crónicas da Margarida Rebelo Pinto.
Nem tu, nem niguém, Belém. Bolas!!!...
:)
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