Cromos de esperas

Habituamo-nos a levar a vida a correr e não nos damos conta da nossa constante impaciência para as pequenas esperas do dia-a-dia. Queremos sempre despacharmo-nos para andarmos de espera em espera e as esperas, ainda que curtas, parecem-nos cada vez mais longas.

Coleccionei alguns objectos de esperas que por vezes me parecem eternas: a água quente no duche de manhã, as torradas prontas para o pequeno-almoço, a luz verde dos semáforos, o arranque do carro que está à minha frente, o elevador que nunca mais chega, a porta do elevador que leva o seu tempo a fechar-se, a empregada da cafetaria que demora a atender as pessoas que me antecedem, a passagem pela porta giratória automática que me faz andar a passo de caracol, a pessoa para quem ligo que nunca mais atende o telefone, o computador que leva o seu tempo a ligar-se, as páginas da Internet que demoram a carregar, a pessoa com quem converso que nunca mais termina a frase, a hora de sair do trabalho que tarda em chegar.

É como se o meu ritmo tivesse deixado de se compadecer com o tempo natural das coisas e eu tivesse a sensação de que passo o dia numa sala-de-espera ambulante.