quarta-feira, maio 02, 2007

O mal do dia

A caminho do aeroporto de Bruxelas, quando estamos mesmo quase a lá chegar, há, no meio das vias, um conjunto de vários balões gigantescos. É um anúncio publicitário de um dos operadores de telemóveis belgas. Nesses balões, há várias coisas escritas. Uma delas é a expressão francesa mal du pays, que significa saudades do país (saudades de casa).

Nunca percebi se a intenção do anúncio é referir as saudades que se vai ter do país de onde se parte ou se as saudades que se tem do país para onde se vai, mas não é sobre isso que me perco em reflexões.

O que faço é entreter-me a pensar, sob um sorriso de escárnio, que giro é traduzir a expressão à letra e pensar em males do país. Assim só por pura maldade. O resultado foi já alguns posts publicados neste blog, ao longo deste ano e meio de existência. E, agora, mais este.

Arregaço as mangas, esfrego as mãos, estalo os dedos e cá vai disto. Vou dizer mal de que mal, desta vez?... Ah, sim, dos hipermercados!

A Bélgica tem muitas coisas boas, acreditem que tem, senão ninguém aguentava cá viver anos a fio debaixo de um céu cinzento durante a maior parte do tempo. Mas os hipermercados, asseguro-vos, sobretudo quando comparados com os estabelecimentos Belmiro, vocês nunca viram nada assim.

Logo para preparos, temos os horários de abertura ao público. Ou melhor, de fecho, que fechados é como os ditos estão quando dava mais jeito fazer umas compras, já sem as crianças a reboque. Gostavam de fazer compras ao fim do dia, depois das oito, por exemplo? Ou ao domingo de manhã?... O tanas! Se não têm tempo de fazer compras durante a semana, façam-nas ao sábado, como toda a gente!... Não podem suportar corredores estreitos onde mal se cruzam carrinhos de compras? Ficam incomodados se por acaso já se esgotou a marca de água que consomem? Causa-lhes transtorno esperar meia-hora para pagar?...São alguns lordes ou quê?!!

Depois há o problema da falta de variedade para a escolha dos consumidores. Não me refiro, obviamente, à cerveja, mas a um outro produto que, embora sabendo que não é um bom exemplo, não posso deixar de mencionar: os sabonetes – e aqui faço o meu sorriso de escárnio, não sei se conseguem imaginá-lo. Nos hipermercados belgas, não há grande escolha em matéria de sabonetes. Há cinco ou seis variedades, e é tudo. Resultado: corro o risco de pagar excesso de peso de bagagem cada vez que vou a Portugal. Da última vez, consegui até trazer sabonetes de pétalas de rosas chinesas, de óleo de amêndoas doces com esfoliante e de leite de jasmim tailandês. E isto porquê? Porque cá já estou farta do Dove e do Sanex e não arranjo mais nada de jeito!

Finalmente, e porque já escrevi mais do que vocês têm paciência para ler, há o problema da desarrumação e da falta de brio na exposição dos produtos, em nada comparável ao que vejo por Portugal. Isto já para não falar de um Carrefour que tive de visitar há duas semanas, ali mais para a zona de Anderlecht, no qual me senti como se estivesse na twilight zone, tanto pela forma como as coisas estavam expostas, tombadas, caídas ou partidas pelo hipermercado fora, como pela apresentação dos empregados ou, até, pelo deplorável estado da casa-de-banho (e respectivos odores) que a mini-bexiga do Migas me obrigou a visitar, não sem, obviamente, ter de pagar 30 cêntimos a uma loira ranhosa que se apresentava como Madame Pipi.

Resumindo, digamos que, hoje, o mal do país - que afinal de contas parece que causa mesmo saudades do (outro) país -, foi não ter por cá esses maravilhosos estabelecimentos Belmiro. Mas, já que aqui estou, deixo um apelo a quem conheça o Engenheiro, para que lhe diga que venha investir para estes lados. É sucesso empresarial garantido.


Na imagem: Le mal du pays, de René Magritte

13 Comments:

Blogger Periférico said...

Genial, só quem já passou pela experiência de ter que fazer compras neste país num sábado compreende completamente o alcance deste post...;-)

Venha Sr. Engº Belmiro que vai revolucionar os hábitos de consumo dos Belgas e facilitar a vida de alguns luso "expatriados"!;-)

Beijos

maio 03, 2007 12:14 da manhã  
Blogger patchouly said...

Pois é, nós somos mesmo bons a vender a produção dos outros a nós próprios...

Beijinhos!

maio 03, 2007 2:24 da manhã  
Blogger Sinapse said...

E os iogurtes ... há que não esquecer o quão limitada é a oferta de iogurtes nos super e hipermecados belgas ...


...


Beijinhos!
Sinapse

maio 03, 2007 4:53 da manhã  
Blogger Sinapse said...

(hipermercados, claro!)

maio 03, 2007 4:54 da manhã  
Blogger Carlota said...

É verdade, Periférico, acredito que sintas o post de maneira diferente da dos que nunca passaram por semelhante martírio...

Mas muito bons mesmo, Patch!

Oh, Sinapse, esqueci-me dos malfadados iogurtes! Fica para a próxima.

Beijolas aos três.

maio 03, 2007 8:47 da manhã  
Blogger Pitucha said...

Eu imploro em silêncio que o Auchan venha para aqui!
Foi o único supermercado onde senti algum prazer em estar. Espaçoso, limpo, luminoso (com luz natural o Auchan do Luxemburgo).
Mas fazer 200 Km para ir ao Auchan do Luxemburgo não me parece viável! Prefiro ir vivendo com as minhas eternas faltas de produtos só por desgosto de ir ao supermercado (mas ha alturas em que tem mesmo que ser!)
Beijos

maio 03, 2007 9:46 da manhã  
Blogger Carlota said...

Não és a única, Pitucha.

Olha só o comentário da Beg, enviado por e-mail porque ela está sem acesso ao blogger:

Carlota, tens toda a razão.
Para quem, como eu já, trabalhou na área da distribuição, não imaginas a impressão e a incompreensão que sinto cada vez que entro num hipermercado na Bélgica.

Auchan, Auchan, Auchan !!!!

maio 03, 2007 10:45 da manhã  
Blogger Carlos Malmoro said...

Mesmo não conhecendo as idiossincrasias do sector da distribuição belga afloradas no post, acho que este último representa, a todos os níveis, uma cabal amostra do que é um texto digno do epíteto “brilhante” (ainda estou chocado por haver hipermercados que fecham às sete da tarde, daí o palavreado todo ;) .
Beijocas

maio 04, 2007 12:25 da manhã  
Blogger jg said...

Ora cá estamos a estalar os dedos prontinhos prá faina!!
Carlota, qd pensei que ias dizer mal julguei que era de Portugal. Aí já estava a pensar cobrar os meus direitos de autor. Safaste-te.
Agradeço-te ter ficado a saber o que era Sanex. O mesmo já não posso dizer sobre a Madame Pipi pq o link é do tipo pescadinha de rabo na boca.
Mas estás perdoada. O post é bem divertido. Porque tú, seguramente, tambem o és!!!!
Bjols

maio 04, 2007 4:30 da manhã  
Blogger Carlota said...

Pronto, pronto, Carlos, não exageremos. Não fecham às sete, mas às oito. À sexta, fecham às nove, mas isto é uma coisa tão boa, tão boa, que achei que se a mencionasse estragava-me o post todo. :)

Não, JG, não sou nada divertida. Mesmo nada. Isto é só fachada. :S
Quanto à Madame Pipi, tenta lá de novo. Eu acho que vai sem problemas dar a um post que escrevi há cerca de um ano, explicando bem o que é a Madame Pipi...

Beijolas aos dois.

maio 04, 2007 9:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

sorry, não posso concordar contigo.

não me incomodou nada os horarios. Aliás, concordo em absoluto com eles. Em portugal peca-se por excesso de "estamos aqui para servi-lo e nao interessa que os trabalhadores nao tenham vida propria".

e também nao me incomodou a falta de oferta, a não ser nos peixes... aí ficava doente!

maio 04, 2007 9:00 da tarde  
Blogger Vera said...

A sério ?????

maio 19, 2007 8:48 da tarde  
Blogger Carlota said...

Claro que é a sério, Brikebrok! E bem-vinda ao Lote 5!

maio 21, 2007 11:28 da manhã  

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