Como as salsichas
É sobejamente sabido que os portugueses têm resmas de nomes. Próprios e apelidos. Da mãe, do pai, do avô, da avó, da tia-avó, da madrinha, do padrinho, do baptismo, do crisma, do casamento, do divórcio… e por aí fora. Isto sabemos nós dentro-de-portas. Fora-de-portas, a história é outra. Mas já lá vamos!
Quando nasci, deram-me dois nomes próprios. Imaginem, por exemplo, Carlota Joaquina. Lindo nome! Um escolhido pela mãe, outro pela madrinha. Até aqui, nada de extraordinário. Com melhor ou pior gosto para os acasalamentos de nomes, muitas das pessoas da minha geração têm dois nomes próprios.
Antes de escolhidos os nomes próprios, já estavam preparados os apelidos. Um da mãe e dois do pai, por esta ordem. Imaginemos, então, que eram de Proença dos Santos Lemos. E vão cinco!
Com o casamento, a situação agravou-se. Não a minha, que por acaso as coisas têm corrido bem. Mas quis o destino, e esta minha cabeça oca, que ao meu nome fossem acrescentados outros dois. Arrependo-me hoje amargamente da decisão – de optar pelos nomes, não pelo marido! -, mas já não há nada a fazer. E lá vieram então os outros dois apelidos, que direi serem de Vasconcelos Monteiro. Um total de sete, portanto.
Ter dois nomes próprios e cinco apelidos é uma coisa normalíssima em Portugal. Toda a gente está habituada a isso e, normalmente, ignoram-se quatro ou cinco para se utilizarem apenas um nome próprio e o último ou os dois últimos apelidos.
Se nos mantivermos quietinhos dentro de fronteiras, a vida correrá normalmente. Entre outras coisas, haverá sempre espaço para preenchermos o nosso nome completo em todos os formulários, toda a gente saberá como procurar o nosso nome numa lista por ordem alfabética e não haverá alminha que não saiba chamar-nos à porta da sala de espera de um consultório.
Agora se a vida nos trocar as voltas e nos levar para lá das fronteiras, então é que os problemas podem começar, pois os estrangeiros ficam muito baralhados por termos muitos nomes. A nossa vida não volta a ser a mesma e, às vezes, temos vontade de poder voltar atrás e dar umas cabeçadas nas pessoas que no-los puseram.
Não há paciência! Cada vez que tenho de mostrar o meu B.I., sinto-me quase sempre obrigada a pedir desculpa e dar uma explicação sobre por onde começar; quando foi preciso registar o nascimento do meu filho, o formulário electrónico do registo civil não tinha caracteres suficientes para o meu nome completo; e se não sou eu a indicar os nomes que devem constar num qualquer cartão, o critério que utilizam para o fazer deixa-me o nome todo trocado.
Aliviam-me a paciência as situações caricatas, como a que me aconteceu com o funcionário que me atendeu um dia quando me dirigi ao balcão de um banco belga para abrir uma conta. Dei-lhe o meu B.I. e ele, depois de ter demorado o seu tempo a contemplar o documento, olhou para mim e disse-me, com um ar todo solene: - Tem tantos nomes, a senhora!... É nobre?
23 Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
:) Tá boa... Quem sabe não és mesmo nobre...
Eu tenho um amigo grego cujo maior divertimento é perguntar o nome todo aos portugueses...E durante muito tempo pensou que Ana era obrigatório!
Pois... Esta mania de complicar!
A proposito: gosto da música!
Bem apareceida... também eu por dois dias não consegui visitar o Lote 5º -1º Dto.
Pois por causa disso é que eu (com muita pena do maridão) escolhi não alterar o meu nome quando me casei... é que eu também sou Marisa Isabel + 2 sobrenomes... Olha também virava Nobre !!! LoooL
Bjos
Eu só tenho 2 nomes (um dos quais a quase inevitável Maria) e 2 sobrenomes e, se um dia "adoptar" um marido, tenho a impressão que bem se pode aborrecer comigo!...
Bjs
:) As tradições não se lamentam, explicam-se e pronto. :)
Eu, depois de ler a Folhita, acho que não poderei dizer melhor...
Serão superiores os europeus que só são filhos do pai? E que se entusiasmam com um qualquer De Nunes que lhes vai arranjar a canalização e outra Da Silva que lhes limpa a casa?
P'amôr de Deus! Há 20 anos que estamos na União Europeia, há 50 que andamos imigrados por aí e há 500 que resolvemos espalharmo-nos pelo mundo e ainda não aprenderam os nossos nomes?
É que não há pachorra...
Quanto ao nobre só me lembro do outro que era bidom, dom da parte de mãe e dom da parte do pai!
Beijos e dorme bem.
Vê isso como uma marca cultural que marca mesmo a diferença. Pessoalmente gosto de nomes com cerca de cinco componentes e acho impessoais os nomes de outros cidadãos europeus, tão pequenos e sem história.chama-lhe portuguesice.
O meu passou a ter 6 porque, também eu, monga, acrescentei, sabe-se lá porquê, o nome do marido. Coitado, não tem culpa e é um querido, mas enfim.Resultado, parece que não sou eu quando me tratam pelo primeiro e actual último nome.
Mas pronto, é a vida.
Beijinhos e bons nomes.
são as tradições e com elas lá está,...dois nomes próprios e três sobrenomes
sou sincera que já reclamei muitas vezes com a minha mãe porquê do segundo nome resposta: fica bonito e soa bem
e o porquê do primeiro sobrenome?! resposta: a avo ficava triste
pronto e lá me vejo eu aflita nalguns papeis para escrever tanto nome!!!
Já não é só aí a falat de quadriculas para os nomes, por cá já começa a surgir esse problema !
:)
O que já me ri!!
Carlota, que bem (d)escrito!
Eu, que só tenho 4 nomes, consigo mesmo assim dar azo a várias composições: um nome no badge de acesso, um outro nome no lotus-notes, e ainda uma composição diferente na base da dados de não sei quê, ...
Ficam confusos!!
:D
Ah, a Laura Lara tem razão!!
Os belgas têm imensos nomes próprios!! É interessantíssimo!
Como eu te compreendo! E olha que os formulários aqui por terras lusas já se "europeisaram". Bem que me esforço por enfiar os meus 5 nomes nos espaços mínimos existentes para o efeito nos tais de formulários (ainda bem que já me livrei do sexto, uff). Fiquei de tal maneira traumatizada que os meus filhos ficaram muitos plebeus: um nome próprio e dois apelidos.
Mas eu sou, Araj, mas eu sou! ;)
Vou investigar Laura! Quanto às dificuldades para entrar no blog, eu também as tive. Mas graças à eficiente intervenção da Xana, tudo está agora compostinho!
Ai achava, Margot?!! Pois olha que eu acho que os gregos é que têm um nome obrigatório. Quase todos se chamam Panagiotis, cujo diminutivo é Takis...
Ah, a música Sabine! Esta é uma verdadeira bomba! De génio!
Sábia escolha, Papoila!
Fazes bem Deep! A propósito, estás super-primaveril! Fica-te bem!
Achas mesmo, Folha de Chá?... Eu diria que depende das tradições...
Os de compreensão a pedal ainda não aprenderam, Pitucha...
A verdade é que ao último apelido (o adoptado) a gente habitua-se, Carla... O pior é quando já estamos muito habituados e depois é preciso vermo-nos livre dele!
Um outro olhar, tu vês-te aflita, mas a tua avó ficou feliz. Pronto!
Confusa fico eu, Sinapse! Como vais ver no post de amanhã!
Xana, os teus filhos são uns sortudos! E eu também, porque se não fosses tu ainda hoje o Lote 5 estava às escuras! Un grand merci!, como diria um belga.
Beijolas a todos!
Sempre gentil...
Fraternalmente, outro abraço.Porquê? Apetece-me...
.'.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Respondias logo que sim. Claro que és nobre! Em Paris, um polícia perguntou-me se eu era nórdica! Há um ministério de perguntas nonsense, não há? Quanto aos nomes: se não fosse o meu rico maridinho eu continuava com 3 nomezinhos apenas,Madalena, Arruda e Gouveia. Assim acrescentei-lhe Mendonça e Santos. lol
Beijinhos, Carlota! Eu gosto do teu nome!
claro que é nobre, eu tenho de soletrar o meu segundo nome proprio as pessoas, letra por letra, "ka que?" dizem eles, os meus pais so podiam estar com os copos quando o escolheram.
muito bom post carlota.
=) bom dia
Venha de lá esse abraço Cuco! Obrigada.
Pois é, Teresa! Temos muitos nomes, mas depois usamos sempre só dois, o que vai dar ao mesmo, ou seja, há mais um milhão com o mesmo nome que nós!
Compreendo-te perfeitamente, Ana. É que apesar de o meu nome também ser português, para os belgas é estrangeiro. E também passo a vida a soletrá-lo!...
Bem, bem... Beg! Achas-me com cara de mentirosa?!!! Claro que lhe disse que sim! ;)
Madalena, mais uma "vítima" do casamento! Bem vinda ao clube!
Se calhar estavam, Rafaela! :))
Obrigada pelo elogio ao post.
Beijolas a todos!
Fartei-me de escrever, e o comment não foi assumido! =( Eu dizia qualquer coisa como não deves pedir desculpa, bla, bla, bla, e que a mim só faltam dois nomes para completar os 7, mas não pretendo assumir nome nenhum do respectivo! =)
Beijinho grande*
"Sim, mas não precisa de me tratar por Sra. Marquesa.
Aqui em Bruxelas, eu tento passar despercebida".
Era o que eu teria respondido ;)))
Fabuloso!:)))
Fez-me sorrir! Deviamos ser mais práticos, e ter, no máximo, três nomes!
Beijinhos.
Wakewinha, é super-aborrecido quando o que escrevemos não fica registado nos comentários!... Deixa lá, fica a intenção, que é boa!
E fazes muito bem em não adoptar mais nomes. Mulher previdente, é o que tu és! :)
Era uma excelente resposta Rita!
A ver se o governo se lembra de fazer uma lei nesse sentido A lice
Beijolas às três!
Enviar um comentário
<< Home