segunda-feira, março 02, 2009

Série cromos repetidos


Madame Pipi

Triste sina essa de passar os dias enfiada numa casa de banho de maus odores permanentes ou passageiros, de ver entrar e sair gente de toda a espécie, de fingir que limpa as sanitas após cada utilização, de controlar as entradas e saídas, não vá alguém esquecer-se de pagar a utilização, e de controlar o número de toalhetes que cada utilizador usa para secar as mãos – no caso de as lavar.
É esta a descrição do trabalho levado a cabo pela chamada Madame Pipi (*), designação que se dá às senhoras que por aqui trabalham nas casas de banho acessíveis ao público.
Não estou, contudo, a referir-me a casas de banho públicas, não! Refiro-me às casas de banho a que o normal português se habituou a frequentar de borla nos centros comerciais, nos cinemas, nos hipermercados, nos McDonald's, nos restaurantes e até, imagine-se, nas discotecas! Àquelas cuja utilização gratuita e expectativa de encontrar limpa são consideradas como direitos adquiridos de um utilizador que se encontra num estabelecimento comercial na qualidade de (potencial) consumidor.
Por aqui, a história é outra. Estejamos a fazer compras em lojas, a meio de um filme após ingerir meio-litro de Coca-Cola, a prepararmo-nos para gastar 250 euros no hipermercado, entre dois Big Macs, à espera que nos sirvam um jantar(**) ou a caminho de uma fenomenal bebedeira num estabelecimento nocturno, se a bexiga apertar e nos dirigirmos à casa de banho, lá está ela à nossa espera, a implacável Madame Pipi, que não hesitará em dizer-nos “Désolée!”, caso não tenhamos no bolso as necessárias moedas.
Tenho de confessar que já me resignei ao facto de ter de desembolsar 30 cêntimos de cada vez que sou obrigada a utilizar uma casa de banho infecta. Nem sempre fui assim. Ainda há poucos anos atrás, era capaz de me aguentar um dia inteiro, se fosse preciso. Tudo menos passar moedinhas à Madame Pipi! Cheguei até a fugir a uma no cinema, escapulindo-me a toda a velocidade enquanto ela berrava: “Madame! Madame!” (eh, eh, eh!). Achava aquela cobrança tão ilegal que nem sequer senti que estava a portar-me mal. Mas agora já estou integrada nas regras da sociedade belga(***).
Acho, até, que já encontrei a solução para o meu complemento de reforma. Quando for velhinha, vou arranjar um posto de Madame Pipi. De preferência numa discoteca, onde se cobra mais caro e onde rende com certeza mais. Nessa altura já terei insónias e não vão fazer-me falta umas horitas de sono. E poderei então finalmente jogar na PSP horas a fio, enquanto as moedas tilintarão no meu pratinho da Vista Alegre!

(*) Pipi traduz-se para português por chichi.
(**) Actualmente, a maioria dos restaurantes já não tem Madame Pipi.
(***) Façam o favor de não fazer uma interpretação extensiva da afirmação.
Post publicado neste blogue em Março de 2006.

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segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Série cromos repetidos


Ah, os homens!


Desde que cheguei à blogosfera, tenho sido surpreendida pela forma como alguns homens se apresentam ao leme dos seus blogues. Nunca a mim me espantou que as mulheres aderissem facilmente à escrita blogosférica porque, como mulher que sempre viveu a escrever, para mim a escrita é inerente à feminilidade. Mas os homens… ah, os homens!... Sempre achei que nunca teriam nenhuma sensibilidade para escrever sobre si próprios e a realidade que os rodeia (os chamados porcos insensíveis) ou, a fazê-lo, seriam demasiado lamechas (os conhecidos pieguinhas). E com isto concluía que blogue de homem só aquele que fosse a extensão/promoção da carreira profissional, de cariz técnico ou exclusivamente dedicado à política ou ao futebol.

Foi com satisfação que descobri que andava completamente enganada. A blogosfera foi invadida por uma série de curiosos arejados, despretensiosos e descomplexados, que não têm problemas em escrever sobre o que lhes vai na alma e que conseguem fazê-lo sem pieguice. Na maioria dos casos, cumulam com todas estas qualidades um sentido de humor apurado, que - e isto é muito importante!!- lhes permite não se levarem excessivamente a sério. É que não há nada mais perigoso do que um homem que só se leva a sério.

São os blogues destes homens que eu gosto de ler, pois tal como na vida atmosférica, não tenho a menor pachorra para aqueles chatos que passam a vida a ensaiar os seus talentos, a falar sobre os aspectos técnicos do seu trabalho, a divagar acerca da política e/ou, pior ainda, a comentar jogadas de futebol ou a comparar as tabelas da classificação dos campeonatos da primeira liga nos meses de Dezembro dos últimos vinte anos. E isto só a título de exemplo porque a minha paciência é, de facto muito, muito limitada.

Estes homens também se portam com dignidade nas caixas de comentários. Nas dos seus blogues, nas dos outros e, sobretudo, nas das outras. Contudo, verifica-se que nas suas caixas, não pululam muitos comentários dos seus pares. A não ser que os assuntos abordados sejam, lá está, técnicos, políticos ou de cariz desportivo. Ou seja, a coisa só funciona em casa. Quando comentam fora, estes bloggers têm maioritariamente tendência a dar uma de porco insensível, sob pena de serem considerados pieguinhas

Bem vistas as coisas, não é nada diferente do que se passa na vida na atmosfera...

Texto publicado neste blogue em Janeiro de 2007

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