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Para ser sincera, nunca tinha tido tempo para, com verdadeira atenção,
folhear o
Sol. E só hoje descobri que, ao contrário do
Expresso, disponibilizam
online à segunda-feira a
versão completa que saiu no sábado precedente. Acho que sei porque o fazem. Entre outras razões, porque publicam coisas tão estúpidas como a que a seguir transcrevo, sob a égide de um 'consultório de etiqueta'. Não pode haver quem pague uma assinatura para depois ler coisas deste calibre.
Pergunta: Fui há dias interpelada rudemente por um casal de meia-idade, por estar a dar de mamar numa pastelaria, como se fosse uma ordinarice. Diga lá se, nas suas regras de etiqueta, a amamentação de um bebé não é a coisa mais natural do mundo?
Resposta: A amamentação é realmente uma das coisas mais naturais do mundo. Mas muitos dos actos mais naturais do mundo fazem-se em privado. Já aquela moda que houve de transformar os partos (outra coisa naturalíssima) em filmes domésticos me parecia bastante repelente. Sempre compreendi que o meu marido, mesmo às vezes pressionado pelos médicos, preferisse esperar pelos nossos filhos fora da sala de operações.
(...)
Uma mãe explêndida tem certamente um peito elegante, mas que não apetece ver na protuberante fase de lactância em funções demasiado naturais. Repare que as pessoas, quando se lhes depara esse espectáculo, normalmente desviam o olhar. É espectáculo que as mães, por muito orgulhosas que estejam a alimentar os seus filhos, não devem fazer em público. Nem numa pastelaria, nem no metro, nem na rua - há actos naturais e correntes que exigem recato e devem fazer-se em privado.
A inclusão destas secções de consultório numa publicação faz-me sempre lembrar a velha Maria. A variedade de assuntos idiotas que se abordam nas perguntas e a estupidez e presunção das respostas são coisas que me irritam e, sinceramente, era coisa que não esperava num jornal que, de início, deu a entender que entrava no mercado para fazer concorrência ao Expresso.
Em tempo: Na minha busca de imagens para ilustrar o post, fiquei a saber que a Maria sobreviveu até aos dias de hoje. E ainda se diz que não há mal que sempre dure...
Outros artigos da colecção: o papel higiénico, as instruções dos medicamentos e as colheres no lava-louça.
Etiquetas: colecção de coisas irritantes