Estive ontem a ver um
programa de televisão em que quatro homens conversavam a partir do mote "mulheres à presidência". Falaram de muitas coisas, sem que necessariamente percebessem do que estavam a falar, mas não é isso que quero agora abordar.
A dada altura, quando constatavam que as estruturas da sociedade não eram favoráveis a que as mulheres estivessem disponíveis para participarem na vida política ou noutros processos de tomada de decisão, um tal de Pedro Vasconcelos (passo a ignorância, pois nunca ouvi falar dele), que por acaso me pareceu que fazia parte da metade dos intervenientes com um cérebro a funcionar, disse que em Portugal se arruma muito, que se faz muito a cama, enfim, deu a entender que as mulheres passam demasiado tempo ocupadas com tarefas domésticas, o que não as liberta para participarem noutras actividades. E isto por comparação às mulheres de outros países (da Europa) onde se verifica uma maior participação feminina na política.
Não sei até que ponto este Pedro Vasconcelos tem consciência daquilo que disse, mas posso afirmar que é tão verdade quanto eu estar aqui sentada a escrever.
Fui educada num ambiente limpo e arrumado e aprendi que, dado que "sabemos como saímos de casa e não sabemos como entramos" (frase da minha sábia Tia), nunca se deve sair de casa sem fazer a cama. Não obstante ter várias vezes protestado por ser "obrigada" a ter as minhas coisas em ordem, habituei-me a gostar de ter sempre tudo arrumado e limpo, a deixar a banheira em condições para a pessoa que vem tomar banho a seguir, a vestir roupa passada a ferro, a não deixar a louça suja na cozinha de um dia para o outro, enfim, coisas básicas (para mim).
Por outro lado, todos nós sabemos como fomos habituados a comer. Todos os dias. A todas as refeições. Comida devidamente confeccionada. E sabemos também o trabalho que dá estar em condições de nos proporcionarmos esse tipo de alimentação diariamente, sem ter que gastar fortunas em restaurantes: temos de ir ao mercado ou ao super-mercado, planear com alguma antecedência as refeições e confecccioná-las. Pois também eu, à semelhança de muitas mulheres, encarrego-me dessa árdua tarefa.
Tendo embora contratado uma pessoa para me ajudar a limpar a casa e a passar a ferro, as outras tarefas de casa mantêm-me bastante ocupada, o que não me permite ter o tempo que eu queria para fazer coisas de que gosto – não para me dedicar à política, porque para isso não tenho jeito nenhum. Creio que isto acontece a muitas mulheres que, como eu, foram educadas “à antiga portuguesa”.
Quando tenho oportunidade de me comparar com as mulheres de outras nacionalidades que conheço, percebo porque é que a Finlândia tem uma mulher na presidência da República, porque é que a Hillary Clinton vai ser a próxima presidente dos EUA, porque é que a Alemanha tem uma chanceler... Encontro as explicações esporadicamente, ao nível local, quando sei que...
... uma irlandesa minha conhecida me diz que me admira por todos os dias ter coragem de cozinhar o jantar, uma vez que ela e a família (filha de três anos incluída) só comem uma refeição cozinhada por dia, que é o almoço...
... o jantar dos filhos dos meus vizinhos belgas são duas fatias de panrico com queijo ou fiambre...
... uma finlandesa que sai de casa para passar fora o fim de semana faz a “mala” arrebanhando indiscriminadamente roupa suja e lavada para dentro de um saco de plástico...
... uma belga vai trabalhar três dias seguidos com a mesma roupa...
... uma inglesa entra na minha cozinha, arregala muito os olhos e me pergunta
Tu tens sempre a cozinha assim ou acabaste de fazer uma grande limpeza?...