Está encontrado o Maneta
Ele respondeu-me com a frase que dá título a este post.
E eu acrescento, no meu melhor inglês: How convenient!
É como se fosse uma casa. Para ir mobilando.
Chego invariavelmente atrasada aos aniversários na blogosfera, apesar de já ter referido este aniversário com a devida antecedência.
Aqui fica, para os eurocépticos, uma prova com cinquenta anos de idade. É certo que as coisas se avizinham ainda mais complicadas para os próximos cinquenta anos, mas a verdade é que muitas realidades da União Europeia de hoje nem sequer faziam parte do imaginário dos europeus de há cinco décadas. Nada é impossível.
Ontem concluí que devo ter passado dois terços da minha vida em frente à televisão, a maior parte do tempo a ver a RTP.
Como alguns de vós poderão ter constatado, a RTP1 transmitiu ontem em directo um espectáculo comemorativo dos seus 50 anos. E foram precisos 50 anos para que se fizesse um respeitável espectáculo, todo organizadinho, em que tudo correu bem e a seu tempo, salva a excepção da entrada de Rui Reininho para cantar com Tony de Matos. Não devem ter ensaiado...
O espectáculo estava bem pensado e teve alguns momentos bastante bem conseguidos, como aqueles em que os cantores de hoje em dia cantavam com cantores dos idos tempos (Amália, Hermínia Silva, Tony de Matos) ou como aqueles em que chamaram ao palco as estrelas da TV dos últimos cinquenta anos, fossem eles profissionais da televisão, atletas, actores, vencedores do Festival da Canção ou misses Portugal.
Aliás, é de sublinhar a emoção destes momentos e o prazer que sempre temos em rever caras que nos acompanharam durante anos a fio, mesmo que tenhamos de as descortinar atrás de muitas rugas, de um olhar cansado ou de uns valentes quilos a mais. Adorei rever, por exemplo, a Fernanda Borsatti e a Margarida Maria.
Interessantes, também, foram os momentos televisivos em que através de imagens pré-gravadas, várias pessoas que fazem parte da história da televisão deram os seus testemunhos e os parabéns à aniversariante: José Eduardo Moniz, Teresa Guilherme, Maria de Lurdes Modesto, Manuela Moura Guedes (mesmo num discurso de apenas duas palavras!), Nicolau Breyner, Carlos Pinto Coelho, entre outros. No que a estes momentos respeita, contudo, estranhei a sequência de testemunhos de três pessoas. Não pode ter sido coincidência; alguém quererá ter dito algo quando alinhou numa só peça os testemunhos de Carlos Cruz, Victor de Sousa e Herman José...
Outro bom momento da noite foi o visionamento das gravações feitas com Artur Agostinho e José Carlos Malato nos arquivos da RTP. Um texto bem escrito, um cenário conseguido e dois grandes personagens da TV: um dos mais antigos e um dos mais recentes. Tudo esteve perfeito, desde os diálogos a propósito dos vários objectos do arquivo até ao encontro acidental da Adelaide João ou do Artur Albarran. Excelente!
Os cantores de serviço também estiveram bem. Foram jovens vozes afinadas a cantar sequências interessantes, das quais são de destacar a dos spots publicitários (Laranjina C, Bic, Mokambo, Mehari Citroën), a dos temas das séries para crianças (Heidi, Vickie, Pipi das Meias Altas, Avô Cantigas, Fungagá da Bicharada) e a das canções que ao longo dos anos mandaram os mais pequenos para a cama. No que a este tema respeita, aliás, tenho de dizer que foi uma emoção rever o desenho animado da primeira música que me lembro: Meninos rabinos, mas muito asseados, a cara e os dentes lavados...
Momentos maus, só mesmo aquela fingida ligação à Gronelândia para falar com a Margarida Mercês de Melo, sem nenhuma razão de ser, e ainda, a meu ver, a inexplicável tentativa de contacto com Paris seguida da entrada das bailarinas do Moulin Rouge. Para mim, pelo menos, não fez sentido.
Ficaram, ainda assim, muita gente e muitas alusões de fora, pois era impossível fazer referência a tudo e todos. No entanto, a ausência de qualquer referência a Fernando Pessa, uma das incontornáveis personagens da televisão em Portugal, foi uma falha indesculpável.
Resumindo, e como é perceptível, gostei bastante do espectáculo que ainda por cima começou e terminou a horas decentes, que é como se faz nos países civilizados. A RTP parece estar num bom caminho. Será que poderei confirmar isto daqui a 50 anos?...
(Este post foi ligeiramente editado às 14h00.)